ANDAR AOS POKÉMONS
Está aberta a caça ao Pokémon!
Tal
como as demais, também esta moda será passageira e efémera, uma vez que daqui a alguns
anitos e depois de biliões de Pokémons
enclausurados nas pokébolas e de milhares de cabeçadas nos pokestops, depois de bastantes milhões de
euros investidos em primeiras prioridades de equipamentos tecnológicos e softwares adequados ou pirateados, o Pokémon voltará a cair em desuso, indo parar
ao caixote dos Gremlins, dos Furbies e dos Tamagotchis.
São
os mais recentes brinquedos digitais, que admiravelmente não só entretêm as
criancinhas como curiosamente também embalam os adultos.
Na
juventude cá do Cidadão abt praticava-se o
jogo do eixo, o paulito, o berlinde, o arco, a cabra cega, a macaca, a corda, e
as meninas tinham as bonecas, as casinhas, os minitrens de cozinha e os mini enxovais, sendo que
em comum havia a estátua fixa silenciosa, a apanhada, as escondidas e se brincava
às enfermeiras a curarem meninos doentes.
Enfim, nesse tempo nós é que fazíamos de Pokémons.
Queimavam-se
calorias e gorduras correndo por montes e vales, jogava-se à fisga, apanhavam-se pássaros,
trepava-se às árvores, fugia-se de bicicleta, gastavam-se os poucos cêntimos em mercúrio,
pensos, pomada para as nódoas e por vezes ia-se até ao hospital coser as testas...
Éramos
mais esbeltos, encardidos e queimados pelo sol, não sofríamos de doenças
alergénicas, não comíamos pisas, psicotchikens ou hambúrgueres, nem passávamos horas intermináveis sequestrados por
um processador.
Com
a evolução da tecnologia, hoje em dia conseguimos trazer o processador
connosco, em cima do braço, debaixo da perna, à cintura, na mão, na mouche e,
em vez de prestarmos atenção aos pontos cardeais, aos ventos, ao musgos, aos riachos, aos peixinhos, aos
bichos, aos pássaros, às árvores, aos carros ou aos caracóis das miúdas,
trazemos a vista grudada no gadjet,
ao ponto de trocarmos o ambiente real por um mundo virtual onde andamos aos Pokémons.
Numa
espécie de praxe abre-olhos, no tempo de juventude cá do Cidadão abt, a malta mais divertida e
bem-disposta costumava convidar os jovens inexperientes, os pata-tenras ou os
maçaricos, a irem caçar gambozinos, acabando os incautos por apanhar
bonés em vez dos ditos cujos, embora para os mais renitentes ou desconfiados,
lhes contornássemos tanta insistência com um naco de febra de porco enrolado em
algodão e, se consultarmos o dicionário do bom português, nele até encontramos a seguinte
definição para “gambozino”:
"peixe ou pássaro imaginário, com
que, por brincadeira, se logram os incautos mandando-os à caça ou à pesca
desses animais".
Ora
nem mais!
Como os Tanakas do Império do Sol Nascente são pequeninos,
finos e espertos cum’ó lume!!
Meteram
o Ocidente à cata de Pokémons!
Munidos
de pokébolas, hoje os mais eruditos e
esclarecidos andam a apanhar Pokémons
em casa, na rua, no emprego, no campo e na praia.
Até os polícias já
encontraram Pokémons infiltrados nas esquadras e
surgem congestionamentos espontâneos de trânsito para não se atropelar Pokémons nas passadeiras!!!!
Há o perigo dos Pokémons se infiltrarem
nos serviços de informações e inteligência mundiais ou de virem a ser
recrutados para as fileiras do Estado
Islâmico!
Quem
não possuir um gadjet está lixado
porque poderá ser surpreendido por Pokémons
terroristas, razão pela qual as polícias previram essa possibilidade, treinando
a detecção e apreendendo Pokémons no
seio das suas pokébolas o que lhes vem conferindo alguma experiência nesta matéria!
As pokébolas da polícia!
No futuro haverá uma Força Militar especializada na detecção e neutralização de Pókemons!
É iminente o risco que corremos com a hipotética infiltração de Pokémons no Pentágono, na Casa Branca, no Serviço Militar de
Inteligência Soviético ou no gabinete
do Kim Jong-un!
Imaginemos que um dos Pokémons acede ao telefone vermelho dos presidentes das potências mundiais ou que consegue carregar no botão dos mísseis nucleares?
Será
uma dor de cabeça para o “quelido líder”
da Coreia do Norte quando lhe
informarem que as suas fronteiras terrestres, marítimas e aéreas estão a ser
devassadas por milhares de Pokémons em fúria!
Cá
o Cidadão abt está certo que Kim Jong-un daria voz de prisão e após
interrogatórios e humilhações perante a assembleia popular, executaria os Pokémons, todos em série e encostados a uma parede branca!
Por
exemplo, Pokémons infiltrados em porta-aviões
nucleares ou na cabine de pilotagem de aviões comerciais poderão vir a constituir
séria ameaça para a estabilidade mundial!
Talvez
que o futuro dos países desenvolvidos assente na pokékultura e nas fileiras venham a implementar exércitos de Pokémons!
Ou que os Pokémons resolvam constituir-se como um estado virtual?!
O Estado Pokémon!
Pokémons nas tropas especiais!
Pokémons espiões!
Pokémons nas grutas!
Pokémons por toda a parte!
E como se neutralizará uma manif de Pokémons?
Que tal a idéia de um Pokémon como ajudante de
campo do nosso Presidente da República!?
Regressando
à corriqueira caça ao Pokémon, é bem
provável que se esta espécie cinegética vingar, no futuro se decrete uma época
de caça ao bicho, talvez antes
mesmo da época de caça à perdiz, da caça ao coelho ou da batida ao javali, dinamizando um entusiasmo tal que poderão surgir relações afectivas entre o homem e o Pokémon !
Será decretada a obrigatoriedade da licença de caça ao Pokémon... e também
será desaconselhada a caça em regime individual, recomendando-se a caça em
grupo ao género de montarias ao Pokémon, ou pelo menos a caça aos pares, pois poderá surgir uma matilha de Pókemons em fúria e ai o pokestop estará em risco pois com as suas pokebolas jamais dará conta de tanto Pokémon!!
Na vertente antiterrorismo, a Policia de Segurança Pública vem recomendando que o caçador esteja
atento ao ambiente que o rodeia, não vá ser emboscado por Pokémons furtivos, que o caçador faça um prévio rastreio visual ao meio
envolvente para não vir a ser surpreendido, que não cace Pokémons enquanto conduz porque os bicharocos são bastante astutos
em manobras de diversão que iludem o foco do caçador para zonas periféricas e supostamente de
menor risco, que o caçador não se deixe atrair para postes de iluminação, propriedades privadas ou áreas
de acesso restrito, zonas militares, campos de treino, campos minados, campos de cebolas, hortas e
nabais...

...poços, ravinas, promontórios, etc, pois esses locais poderão estar
armadilhados pela astúcia dos bicharocos, recomendando-se também que o caçador evite entrar em diálogo com
estranhos pois poderão ser Pokémons reencarnados
em pessoas para assim lhes darem a volta e consequentemente cabo do couro, e que os caçadores de
Pokémons tenham muito cuidado com as
aplicações manhosas para lhes aprimorar o tiro das pokébolas porque poderão ser Pokémons da contra-informação contendo malwares que lhes arrasarão com os dados pessoais!
Chegou
o tempo de miúdos e graúdos andarem por aí com Andróides à procura de Pokémons
mas que por insuficiência económica essas aplicações não se adaptam às receitas
electrónicas emitidas pelo Serviço Nacional de Saúde.
São
sinais inequívocos duma civilização cada vez mais desenvolvida, esclarecida e
consumida desta era em que se constroem templos de consumo bem maiores do que as
catedrais, sendo que num destes dias corremos o risco de encontrarmos Pokémons alojados nas pias baptismais e nos turíbulos!
É uma questão de fé!
Agora
desculpem qualquer coisinha, caros ciberleitores, pelos ruídos que cá o Cidadão
abt vem ouvindo desconfia que terá um Pokémon escondido algures nos confins do frigorífico...
- GO! GO! GO!