O BUJÃO
Naquela quente e linda tarde domingueira de Agosto, o Cidadão orientou os noventa quilos para o Àquapólis de Tubucci.
Com ele foram os Râybãns, dos que lhe confere um smail de ficar com os beiços mais espessos envoltos em élãn matador... matador, matador… á la dolce vita!
De calções havaianos até ao joelho, que dão um certo jeito, pois por estas partes não há indecências… antes pelo contrário, muito preconceito até!
E a toalha!
Para um verdadeiro macho latino, a toalha é peça fundamental, uma verdadeira bandeira de afirmação!
Ao caso, traz estampada uma sensual modelo em bikini!
Até porque nesta chafarica, o elemento feminino está quase sempre… mulheripresente…
Não é que seja bem do agrado cá da Companheira… mas prontos… também não passa mesmo disto… de brincadeira e bôa disposição, pois em abono da verdade, já nos aturamos vai um quarto de século e há projectos para outro tanto!
Ora bem, cá o rapaz prostrou o seu body sobre aquele sugestivo toalhão, no areal ribeirinho ao Àquapólis… mas, catano!
Os seixos rolados deram-lhe cabo dos lombares… contrariando a máscula libido de uma bela donzela percorrendo com suas veludas mãos, a derme alheia em suaves massagens!
Olhando o espelho da brilhante superfície aquática, sua vista cruzou-se com os seus próprios pés!
Diacho!
Tinha-se esquecido de cortar as unhas!!!
Isto seria grave?
Prosseguindo…
Com a miúda de pano por baixo, deixou que o Sol lhe fizesse a fotossíntese por um bom par de horas enquanto canoas e rosinhas traçavam os reflexos de luz sobre aquelas tágides águas.
…Uma barca azul competia com esse cenário idílico de pescadores dando banho á minhoca.
E mais, a grená obra de Charters parecia distorcer-se no espaço sideral, tal era a canícula que por aquelas bandas assentava.
Os gritos das crianças, os berros das claques paternais e as ordens dos instrutores de remo que se esgaçavam por uns quantos competidores, impediam que se ouvisse o marulhar das águas em harmonia com o piar das gaivotas e o chilrear das andorinhas… um cano de esgoto a céu aberto despejava águas fecais que se iam dissolvendo na grande superfície azul, e mais adiante… não… ainda mais a jusante, na vila do Tramagal os residentes da Rua da Barca e do ex-piscatório Bairro da Lamacheira lamentando a falta de água em suas torneias… enquanto duas mamãs caminhavam a par sobre o seixal, em entusiasmada conversa acerca das agruras da vida… hum… provávelmente desconheceriam as Crónicas de um Cidadão de Abrantes, caso em que os seus sorrisos seriam diferentes…
O tempo foi definhando e o Sol atingindo o mais recôndito dos urbanos poros cá do rapazola…
Já o Astro Rei se ocultava no horizonte por detrás daquela secular e trepidante ponte rodoviária, quando cá o Cidadão resolveu erguer seu estaminé, dirigindo-se para caselas, satisfeito por uma tarde bem curtida!
Ah! Depois foi o bom e o Bonito, que é para os lados do Entroncamento… porque entrementes conseguiu uns vermelhões onde despejou uma bisnaga de Fenistil!!!

E você que está a ler estas tretas, ao momento pensará…
-Quê do bujão?
Ganhe lá calma porque a procissão ainda vai no adro e… Roma e Pavia não se fizeram num dia!
É assim, no artigo anterior isto andou a bater mal no Baralho, logo no seguinte teria que ser sobre o Bujão!
Não imaginais o quanto custa um tipo desatar p’ráqui a escrever na terceira pessoa do singular sobre assuntos que se passam na primeira pessoa!
Além do mais, tendes que merecer o desfecho desta crónica…Tá?
E…se não estiverdes a achar gracinha ao que por aqui se vai desenrolando, remeto-vos para o intróito a estas secas do caraças que reza assim:
“Um blogue que tem como objectivo, de um modo metafórico, satírico e bem disposto, denunciar situações, que ao Cidadão se lhe afigurem erradas ou desadequadas à vivência social. A sua leitura é desaconselhada a maldispostos crónicos, a cinzentões e a mentalidades quadradas.”
E se mesmo assim não vos convencestes, o melhor que tendes a fazer será transferir-vos para outra chafarica menos agoirenta!
Isto é lixado mas… c’est la vie!
Ora bem, já deveis ter reparado que surgem estrangeirismos neste reportório pela nona vez… “smail”, “body”, “Web”, “á la dolce vita”, “c’est la vie”, “Râybãns”, “Charters”, “élãn” e… tudo isto porque se estudou estrangeiro técnico!
Uma semana se passou e como o homem é um animal de hábitos, razão pela qual existem alguns conventos, também cá o rapaz não deixou esse epíteto por mãos alheias… pegou em si, uma vez que a Companheira não se mete nestas aventuras e com a agravante da Gata Cristie estar prestes a parir outra ninhada, e foi para o tal local aprazível do escaldão… despiu a florida camisa de algodão com 40% de fibras sintéticas, expôs seus pêlos peitorais e pneumáticos ao Sol, descalçou as sapatilhas, estendeu a sensual toalha de estimação deitando-se com desdém e de papo para o ar sobre ela, quando despertou, exclamando sozinho e em alta voz:
“-Eia, pá! As unhas! Outra vez, as unhas!”
“-??? Porque será que as unhas hádem crescer desta forma?”
Pois… nos princípios de Setembro foi lua cheia… engraçado… não vinha á memória sobre o que se passou durante essa noite…
Prontos…
Há que consultar as caixinhas de comentários dos blogues do pessoal, a saber o que realmente se andou a fazer durante o lapso de tempo…
… Com barba de sete dias… talvez…
Adiante… e prosseguindo o monólogo sonoro:
“-Mas o que vem a ser aquilo além ao fundo?”
“-Uma motorizada no meio do rio?”
Para além dos pés cá do Cidadão, apenas avistava areia, areia, mesmo muita areia e no lugar do barquinho azul… uma motorizada?!
“-Insolações?”
E assim cá o Cidadão se surpreendeu, falando sozinho…
Agora sim! Fazia falta… o tal estetoscópio!
Hum… Há quem diga que isto nos dá antes de morrer!
-Lagarto! Lagarto! Lagarto!!!

Um grande lagarto ia atravessando o seixal… em direcção ao aqueduto!
!!ii! Que horror!
Reparando melhor…
“-Quê da água? Maré baixa???”
Só um fiozinho lá bem ao fundo que até o Tejo parecia uma ribeira!
Assim cá o Cidadão se ergueu arreliado de todo e arrumando seus haveres, foi-se em demandas não sabe bem de quê!
Entretanto, algures no meio da ramagem junto àquele canudo canelado, a Gervásia e o Vultão tentavam dar cumprimento ao estabelecido pelo nosso Aníbal numa derradeira tentativa de contribuírem para o aumento populacional… o Vultão, encavalitado no dorso da Gervásia, já tinha transposto as preliminares e passava á fase seguinte, bicando a nuca da desgraçada… exclamando entre manhosos gloteares:
-Oh! Querida! Oooh! Querida!
Ao que a Gervásia, em grande êxtase retorquiu:
-Aaaahh! Que «~«~«~gooOzo!
Neste ponto da situação, o Vultão aborrecido de todo, desmontou-se de cima do alvo manto dela, e em danado glotear… vociferou:
-Ai, e ainda estás a gozar??? Vai mas é gozar com outro que sou um cegonho de muito respeito!

Enquanto o Vultão senhor do seu bico, se elevava majestosamente desaparecendo no horizonte celestial, talvez de onde avistasse a barquinha azul, esperançado em não apanhar com um bago de chumbo perdido pois tinha aberto a caça eleitoral, havendo alguns passarões feridos devido a fogo cruzado!
Notem bem ao que estes passarões se prestariam durante a venatória época!
O que nos vale é que o povão não enxergaria népias disto…
Ah!
E a incompreendida Gervásia por ali ficou toda esparramada, de plumas revoltas e asa estendida grudada ao solo!
Coitada da Gervásia!
Percorridas umas centenas de metros de calhaus, e como se de deserto não se tratasse, cá o rapaz deu com um senhor de tez morena e enrugada pelas agruras da vida…
-Ó senhor! Por amor de Deus! Mas o que se passou aqui?
-Abriram o bujão e esvaziaram isto tudo…

Cá está o bujão… repararam?
O quê? Qual era o nono estrangeirismo?
“Bikini”

-Para limpezas… é?
-Não. Dizem que é para consertarem a barrage!

-A barragem do Fratel?
-Não senhor… é para arranjarem aquela coisa ali adiante que não deixa passar o peixe!
-O miúdo ou o graúdo?
-O graúdo passa sempre!
-As comportas e passagens para o peixe?
-Não senhor! Bem se vê que o senhor também não entende nada!
-Mas aquilo já está estragado… é?
-Sei lá! Dizem que é por causa da garantia da borracha, senhor!
-Ah! Por causa da borracha…
-Sim senhor!
-Mas assim a borracha não presta para nada! Não chegou a durar dois anos e o pessoal já anda de volta das comportas… se calhar foram compradas na loja dos trezentos!
-O amigo… não acerta uma! As “comportas” é isso encarnado atrás de si!
-Pois estas torres…

-Dizem que são comportas e passages!
-Para que servem?
-Olhe, para estarem aí!
-Pa’starem aqui a fazer o quê?
-Para estarem de pé!
-Mas, porquê… de pé?
-É que se estivessem tombadas, não acha que ocupariam mais espaço?
-Sim, mas qual a utilidade disto?
-Vêem-se ao longe e fazem sombra! Dizem os sábios que são para chamar gente!
-Fazem sombra se o Céu estiver limpo! Mas não se vê por aqui ninguém!
-Isso é da continuidade…
-Da continuidade?
-Sim. Até anda por aí uma religião a distribuir folhetos com essas explicações todas! Aquilo até tem uma imagem como a dos apóstolos… mas são nove em vez de doze! E dizem que querem continuar com estes projectos!
-Modernices…
-Pelo menos dizem a verdade!
-Afinal qual deles é que escolhia?
-Olhe, amigo, eles são todos bons quando querem para lá ir e depois de se apanharem no poleiro, são todos iguais! Não andemos atentos e vai ver se não nos fazem como ao açude!
-Como assim?
Ou você ainda não percebeu isso?
-Ah! Pois!
-Na pintura de Leonardo da Vinci, a figura sentada á direita de Cristo parece ser uma mulher… mas nesta religião a mulher é que parece passar pela figura central!
-Anda tudo trocado!
-Até a oração é esquisita! …
-Não compreendo…
-Ainda não compreende? Querem continuar a esbanjar os nossos impostos em obras de Santa Engrácia! Você já reparou na utilidade do campo de Basebol? Meia dúzia de rapazes que aparecem por lá duas vezes ao ano a dar umas tacadas… e desaparecem!
-Ah!
-Puseram aqui um açude com tanta manutenção que nem sei onde vão ao carcanhol para as despesas! Você já pensou nisso? Ao fim de ano e meio é o que se vê, daqui a dois anos a mesma coisa, até que caia no esquecimento… e qual o benefício que já tirámos daquilo? Nenhum! Mais vale alimentar burros a pão-de-ló!
-Como os muros do jardim do Castelo… por lá continuam esquecidos… as estradas e ruas degradadas das aldeias, as etares inoperacionais libertando fedores nauseabundos…
-E um pobre diabo a arrotar pessegueiro á bruta! Isso é o que me lixa! Um tipo quer viver um bocadito mais desafogado e não o deixam!!! Carregam o galho com taxas, tarifas e impostos que não são brinquedo nenhum e no fim vai-se a ver, estragam nisto!
Vamos a ver e acaba-se por misturarem as águas fecais e saponárias com as pluviais ali no subsolo do Condoal, de onde vem um cheiro que não se pode! E depois, para onde vai aquilo tudo? Não me saberá dizer? Dizem que não há verba para as necessidades básicas das populações.
-Pois… quer dizer que por este ano a praia foi-se!
-Acabou-se… também não é bem assim… lá para o Outono volta a encher!
-Ah, enche, enche! Mas estava cá a pensar na borrachinha… há borrachinhas que duram bastante mais…
-Dos preservativos… por exemplo, têm mais duração!
-Com funções diferentes!
-Olhe que também não será bem assim… onde julga que estes tipos vão ao dinheiro?
-Pois… não entendo a associação…
-Atão, umas ou outras acabam no mesmo serviço… não concorda?
-Você tem “espírito de contradição!”
-Acha?! Tenho que ir á Benta!
-Quem é essa tipa?
-Não meta água, homem!!! Não é uma tipa qualquer… não senhor! É uma mulher que nos afasta os maus-olhados e os espíritos malignos!

-Ah!