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Este militante anti-cinzentista adverte que o blogue poderá conter textos ou imagens socialmente chocantes, pelo que a sua execução incomodará algumas mentalidades mais conservadoras ou sensíveis, não pretendendo pactuar com o padronizado, correndo o risco de se tornar de difícil assimilação e aceitação para alguns leitores! Se isso ocorrer, então estará a alcançar os seus objectivos, agitando consciências acomodadas, automatizadas, adormecidas... ou anestesiadas por fórmulas e conceitos preconcebidos. Embora parte dos seus artigos possam "condimenta-se" com alguma "gíria", não confundirá "liberdade com libertinagem de expressão" no principio de que "a nossa liberdade termina onde começa a dos outros".(K.Marx). Apresentará o conteúdo dos seus posts de modo satírico, irónico, sarcástico e por vezes corrosivo, ou profundo e reflexivo, pausadamente, daí o insistente uso de reticências, para que no termo das suas análises, os ciberleitores olhem o mundo de uma maneira um pouco diferente... e tendam a "deixá-lo um bocadinho melhor do que o encontraram" (B.Powell).Na coluna à esquerda, o ciberleitor encontrará uma lista de blogues a consultar, abrangendo distintas correntes político-partidárias ou sociais, o que não significará a conotação ou a "rotulagem" do Cidadão com alguma delas... mas somente o enriquecimento com a sua abertura e análise às diferenciadas ideias e opiniões, porquanto os mesmos abordam temas pertinentes, actuais e válidos para todos nós, dando especial atenção aos "nossos" blogues autóctones. Uma acutilância daqui, uma ironia dali e uma dica do além... Ligue o som e passe por bons e espirituosos momentos...

sábado, 31 de janeiro de 2009

TARIFA DE QUÊ?!

TARIFA DE QUÊ?!


Por esta altura do campeonato já nosselências, fregueses dos Serviços Municipalizados de Abrantes, ou do AMBIENTABRANTES, estamos recebendo nos receptáculos dos nossos digníssimos lares a respectiva facturazita do consumo de água, acompanhada de uma pequenina atenção igual á representada na imagem que se exibe:



Ao lermos esta “informação aos consumidores”, logo chegamos á conclusão que, de agora em diante, seremos brindados por uma taxazinha… a TRH, que quer dizer “Taxa de Recursos Hídricos”, com iniciais maiúsculas… e, se bem repararem, á laia de justificação, entre outras cenas, esta taxa visa, por exemplo compensar uns benefícios!

”O benefício que resulta da utilização privativa do domínio público hídrico (Ex: captação de água na Albufeira do Castelo do Bode);

Perceberam?! Ainda bem, pois cá o Cidadão, não! Se esta taxa é uma benesse prós pessoais, então qual a vantagem de termos a albufeira debaixo dos nossos bigodes, humedecendo territórios Abrantinos?! Népias!

Topem agora a seguinte cena…

“Esta taxa visa compensar o custo ambiental associado ás actividades que possam causar um impacte significativo nos recursos hídricos;”

Afinal, para que servem tão antecipados e rigorosos estudos de impacte ambiental?! E para que servirão os serviços de fiscalização onde se incluem as forças policiais, para fazerem cumprir as regras inerentes ao meio ambiente? Ou será que se admite a degradação do meio ambiente para, á posteriori se desperdiçarem verbas com a sua recuperação?

“Esta taxa visa compensar os custos administrativos inerentes ao planeamento, gestão, fiscalização e garantia da quantidade e qualidade da água.”

Até ao momento, estas gentes não auferiam as suas remunerações?

Custos administrativos… (de Administradores).

Custos inerentes á gestão… (de Gestores).

“Administradores… Gestores…” Humm… onde é que já ouvimos falar nestes tipos?...

Mais uns tachozinhos jeitosos… não serão?

Custos com a fiscalização… ora reparem bem… esta terceira justificação inviabiliza a segunda… aquela que reza assim:

“Esta taxa visa compensar o custo ambiental associado ás actividades que possam causar um impacte significativo nos recursos hídricos;”

Lembram-se? Então admitem-se as tais actividades? Destapa-se com uma mão e tapa-se com a outra!

Leiamos o verso da cartita… huuummm.


E agora? Tanta benesse… Não é verdade, ó pessoal?

Julgáva-mos nosselências que outras taxas da facturação seriam substituídas por esta… ora vejamos… metendo a coisa em tubo de ensaio… e agora aquecida em Bico de Bunsen… analisemos o resultado:


Humm…hummm… hummm… cá temos a facturação seguinte, hummm… acabadinha de sair do forno… ora bem… senão vejamos… ah! Os óculos!


Tarifa de água 1º escalão…

Tarifa de água 2º escalão…

Tarifa de água 3º escalão…

Tarifa de água 4º escalão…

Tarifa disponibilidade…

Que antes era o tal aluguer do contador…

Tarifa saneamento fixa…

Tarifa saneamento variável (por m3) …

Tarifa saneamento adicional…

Ena, tanto saneamento…

Tarifa resíduos sólidos urbanos, fixa…

Tarifa resíduos sólidos urbanos, variável (por m3) …

Resíduos de toda a maneira…

Tarifa recursos hídricos – água…

Dããã ??

IVA a 5%...

Portanto, onze benesses e um IVA!

5%

Consumo real de água = 37.16€

Taxices = 26.92€

Ora bem… só de taxas, pagamos quase tanto como de consumo de água…

Outro exemplo de facturação…



Qualquer semelhança é pura coincidência.

Há coisas fantásticas, não há?!


(desculpem lá… isto… foi um reflexo condicionado…)

Mas aproveitando este, calculem a quantidade de taxas que são desembolsadas por muitos e embolsadas por poucos, caso estas cachopas resolvam tomar uma banhoca na rede pública? È taxativo! …

Uma verdadeira banhada!

Daqui, o que concluímos?

Somos um povo que encerra resignadas fileiras de raiva mansa!

Ao cair da folha, não nos esqueçamos de votar bem… está combinado?



quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Ó CIBERPESSOAL!

Ó CIBERPESSOAL!

Temos um baby na globosfera! Chama-se Aqui-Ali-Acolá!

Façam o favor de o linkar, divulgar e participar!


sábado, 24 de janeiro de 2009

MISTAKES



MISTAKES

Alguma vez na vida…  
Todos nós cometemos mistakes!

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

SÉCULO XXI

SÉCULO XXI

novas mentalidades


segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Adeus, João Aguardela.

Adeus, João Aguardela.

1969-2009


esta vida de marinheiro…

a naifa…


sábado, 17 de janeiro de 2009

A OUTRA MARGEM



A OUTRA MARGEM
O Sol descia lentamente por detrás do maciço urbano, à esquerda daquela imensa planície de água ondulante… uma fragata velejando contra a corrente rumava a montante do estuário… lá longe… um cacilheiro fendia as águas apontando ao Terreiro do Paço
Binóculos em riste… duas enormes colunas em mármore abriam os seus braços aguardando pela abordagem da embarcação… o Cais das Colunas. 
Espreitando um pouco mais à direita, envoltas em verde tapete, apartando Alfama da Mouraria… as altaneiras muralhas de São Jorge, recortavam o avermelhado do horizonte… no frondoso bosque de betão aqui e além ponteado por torres sineiras, revelava-se a imponente cúpula de São Vicente de Fora, reportando o Cidadão para terras muçulmanas. 
A ondulação murmurava seus segredos no escarpado rochedo ribeirinho… gaivotas emitiam repetitivos piares, desfechando voos rasantes àquele mar, erguendo-se das vagas com o contorcido peixe cravado em seus aguçados bicos… outras planavam no firmamento, como guardiãs do horizonte! 
Canas osciladas por pescadores, lançavam o isco pelo espaço, acompanhado do silvar das linhas. 
De outras, chegava o matraquear de carretos rebobinando a presa. Pela direita, juntinho aos pés do Cidadão, um colorido bote de meia quilha com cerca de dez metros de calado aproximava-se sorrateiramente, impulsionado pela alva vela latina, insuflada de brisa ribeirinha… a proa oscilando acima e abaixo da linha chapinhava implacavelmente as águas numa suave dança marinha… seus timoneiros olharam o Cidadão acenando um adeus fraterno… um folheto publicitário entretinha-se a driblar os ventos rasteiros da marginal, indo repousar no sopé da amurada… o Cidadão baixou-se para o apanhar…aiii… aquela dorzita de costas fazia-se anunciar a todo o momento… do capote, retirou a esferográfica de tinta preta com que foi descrevendo uns rabiscos irregulares no verso do papel que a divina providência lhe proporcionara… tomaram formas e sentido… esboçava a magnífica paisagem interrompida pela imponente presença do bote. 
Um automóvel chegou-se à margem… parou… no seu regaço, um jovem casal entregou-se a carícias de fim de tarde, satisfazendo desejos e paixões… de lá… brotava uma bela melodia que se esvaía no espaço, acompanhada da fina voz de Dulce Pontes invocando a canção do mar...
O tempo escorria afoito, brindado por refrescante brisa salgada… aquela imensidão de água espraiava-se em tons alaranjados reflectindo a despedida do Sol… a ondulação, aumentou um pouco mais… 
Em suporte digital, Dulce Pontes fez-se sentir vezes sem conta… outro cacilheiro regressava, surgido do infinito… tal aeronave tracejando o céu azul com seu branco rasto… e aquele mar… ondulante… envolto em labaredas de fogo rasteiro, proporcionava um quadro de Malhôa… sugerindo luminosas searas trigais em planície alentejana… palha ondulante… o Mar da Palha… entretanto o ruidoso chilrear de uma colónia de pardais ocultos na folhosa copa da amoreira denunciava o regresso do Outono… tempo de crise… crise de valores, crise de princípios, crise económica.
Na outra margem, envolvendo Dom José em seu cavalo, homens e mulheres envergando fatos cinzentos e acomodados em escuros cadeirões, decidiam os desígnios deste país! 
Fechavam-se urgências hospitalares, limitavam-se horários, encerravam-se maternidades, restringiam-se serviços públicos, racionalizavam-se meios de socorro…
Algures neste Portugal clama-se o “112”… desespera-se por alguém que atenda… perdem-se minutos com minuciosos questionários… transferem-se chamadas... aguardam-se outros tantos minutos, repetem-se inquéritos… as vitimas agonizam de dôr… o tempo urge… o sangue corre… a vida escorre… os minutos passam lentos… e as vidas fogem rápidas… aumenta a aflição de quem assiste… os ânimos exaltam-se… os inquéritos prosseguem… do outro lado duvida-se, do outro lado, insinua-se… o desespero toma conta de quem assiste… a paciência esgota-se… as vítimas desfalecem… em prol da racionalização de meios… não se desperdiçam verbas… enquanto os agonizantes sentem o estado a descontar-lhes nas almas…
Gestores e administradores desfrutam os dinheiros dos clientes, viajam, prostituem, divertem-se, desperdiçam em mordomias… faustosos jantares… carros topo de gama… moradias luxuosas… e partilham os milhões com dezenas de amigos… seca a teta… vão à falência… e o estado socorre! 
O Estado salva! 
O Estado ajuda! 
Esse Estado que racionaliza os recursos humanos, esse estado que questiona antes de socorrer… que duvida do sofrimento do seu povo… que envia o paciente em crise de ataque cardíaco… entregue a si mesmo e ao volante do próprio automóvel… de um, para outro hospital com melhores recursos… o mesmo estado que amarra a vítima ao banco da ambulância por escassez de meios, o tal estado que encerra maternidades permitindo que se dê á luz na berma da estrada e promove clínicas de aborto… esse estado que tanto poupa em recursos humanos para desperdiçar milhões na salvação dos desorganizados banqueiros, tem o dever moral de explicar aos seus contribuintes, quanto trabalho será necessário para salvar esses senhores! 
Porque as receitas desse estado são provenientes dos cidadãos que passam esforçados sacrifícios para cumprirem com os seus deveres, verbas que são arrancadas àqueles que produzem, á população activa que constrói o país onde reside! 
E quando aqueles que nos governam vêm falar de crise, antes se lembrem de nos prestar tais explicações!
Um manto escuro envolve a paisagem… acendem-se luzes amarelas pelo correr da marginal… um skatter em estilo heavy-metal, imprimindo forte rotação na sua prancha, circula absorto em seus pensamentos… pontinhos tremeluzem no convés dos distantes navios … uma cascata de luz vai crescendo no horizonte… a cidade prepara-se para as trevas… um leve aroma a nafta faz-se notar… a buzina rouca e profunda de um navio revela-se distante… nas águas escuras pressente-se o chapinhar de um peixe… será uma linda sereia? 
Um cão sarnoso, caminha torcido pela marginal… a brisa arrefece cada vez mais… é a maresia. 
O Cidadão enterra o boné… arrebita a gola do capote, saca da carteira de Captain Black e carrega a chaminé do cachimbo… calca… com o isqueiro, atiça o lume… uma baforada… outra… até que ferra, crepitando o fogo no palhuço do tabaco… forte aroma envolve o espaço… descontrai… o tempo passa… das estreitas e escuras ruelas surge um grupo de alegres e ruidosos rastafaris… aproxima-se…
-Yá men, tens lume?
-Oh, boa noite… toma… chega aqui a mortalha…
Com o aconchego das mãos se acendeu mais um cigarro…
-Fixe meu! Tá-se bem!
-Curtes, mêmo! Numa bôa…
-Thanks, men! Vamos bazar…
-Djá!
O Cidadão contempla aquele infinito horizonte urbano… esta… e a outra margem… vai derretendo o tempo… quantos rios no mundo existirão… cada um com suas margens… as deste rio e as dos outros! Rios de vida… rios de aventura… rios de memória… rios de sonho… rios de alegria… rios de tristeza… rios de guerra e de paz… rios de fome… rios de miséria e rios de fartura… rios de doença… todos os rios têm duas margens… uns transponíveis… outros… talvez NÃO!
Vem-lhe à ideia o quanto está distante de casa… da família… perdeu-se… tem que regressar… não nesse dia… o Cidadão é pequeno na imensidão deste mundo!
O Cidadão… esse vagabundo…

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

O NINHO



O NINHO

Foi na Primavera, quando pela chaminé da casa do Cidadão, se começaram a ouvir uns chilreados…para lá são enviados os vapores da confecção de alimentos e a exaustão do esquentador a gás… ao fim de alguns dias, esses barulhitos aumentaram de intensidade e não havia nascer de Sol em que o Cidadão tivesse de tomar o pequeno almoço sem a companhia de tal algazarra! Volta e meia umas palhitas e outras plumas caíam sobre o fogão, exasperando o Cidadão, dando-lhe ganas de subir ao telhado afim de pôr côbro àquela chinfrineira, mas depois, reflectia… isto é vida! Isto é a vida a eclodir! Não! Mas quem se julgava o Cidadão para terminar com as pequenitas vidas, desfazendo um ninho de pardais? Sim, porque um ninho dará trabalho a construir, em palhinhas entrelaçadas, barro, retalhos de tecido e plumas, numa laboriosa perfeição da natureza… e a vida não se mede pelo tamanho das asas ou do corpo que habita! Não seria por motivos de sobrevivência, mas sómente por uma questão de comodismo e sossego, que o Cidadão faria um trabalho desses! E assim, os pardalitos foram convivendo e habitando com o rapaz! Chegavam a invadir-lhe a privacidade, ao encontrarem porta ou janela abertas… nessas ocasiões, a gata Cristie fazia jus dos seus dotes de caçadora e, com jeitinho, vinha depositar delicadamente os bicharocos nas mãos do Cidadão, da Companheira ou dos Juniores, todos babados, tremidinhos e de pulsação acelerada, mas ilesos, e depois eram devolvidos ao espaço exterior! Durante o tempo quente, o Cidadão acabou mesmo por colocar na varanda, um pequeno bebedouro invertido, acompanhado de uma tigela, onde deixava alpista, ou pedacitos de pão! Venciam-se semanas, com o Cidadão habituado ao ruidoso despertar da natureza, quando, certo dia, sentiu um chilrear diferente… mais curto… fraco… e fino, cruzado com as algazarras da passarada! Se há sentido que o Cidadão tem bastante apurado, é o da audição, devido a ancestrais experiências e necessidades, quando, de pequeno, se embrenhava nas savanas onde os meninos Africanos lhe davam a provar fuba e mandioca! Motivo da grande “pancada” pelas difíceis caminhadas… embrenhado em zonas ripícolas, nas matas, nos vales profundos, progredindo nas margens de ribeiras… trepando montanhas! Ainda o bicho se ocultava a umas boas dezenas de metros e já o Cidadão o detectava! Mesmo um réptil! Dons… Voltando ao assunto, esse chilrear foi ganhando força, alvorada atrás de alvorada, como se de uma família numerosa e feliz se tratasse!
Até que certa manhã… tudo se calou!...
Estranho…
Segunda manhã…o silêncio manteve-se…
Terceira manhã… e zero! Veio o Domingo…
E o que se meteu na ideia do Cidadão? Subir ao telhado de sua casa, para verificar o que se passava! Ora vejam só, a grande pancada! Subir ao telhado de uma habitação, por um ninho de pardais!
- È mesmo de cachopo! Ralhou a Companheira!
-Ò papá, ganha juízo! Vociferou o Júnior!
-Miaaau!!! Miaaaaooou!!!
-Também tú, gata Cristie? Mas que olhões me estás a botar!
Porque em casa do Cidadão reina a liberdade de expressão e a pluralidade de ideias…Lá foi ele, todo lampeiro… de escadote em punho, coisa e tal… arfando por todos os poros, pois não tem lá muito jeito para trepar ás chaminés como o Pai Natal… quando a alcançou…mais valia não ter lá ido! Um passarito prostrado sobre as telhas, morto, junto ao fuste da chaminé!
Desceu…
E aí, a famelga toda lhe questionou:
-Atão?
-Então?
-Desembucha!
-Miau?!
E o Cidadão, nada respondeu!
O cidadão ficou assim… um bocadinho p’ró acabrunhado.
E nada explicou… nada disse. Mas todos notaram…
Que o Cidadão ficou… um pouquinho desolado.
-Miau? Indagou a gata Cristie…
Todos se votaram ao silêncio.
Foram-se esvaziando alvoradas,
Nascendo outros Sóis…
O chilrear parecia ter ficado entranhado nos ouvidos do Cidadão...
Vieram mais madrugadas… algumas chuvosas…
Sempre o mesmo chilrear… parecia ainda vir da chaminé… o Cidadão encontrou mais uma palhinha no seu copo de alumínio… hum… na manhã seguinte… uma pluma caía suavemente sobre o fogão… depois de umas quantas madrugadas, já a azáfama tinha voltado ao que era dantes! A gata Cristie a babar os pardais, o Cidadão a “gramar” a barulheira matinal, a Companheira desfazendo côdeas de pão e enchendo o bebedouro, os Juniores felizes, por ter uma vasta família… com a bicharada incluída, e um Pai mêmo castiço… que aceita as diferenças!
-LOL! O meu Cota é bué dãã convencido! LOL!!!
-Ah! Vem cá, meu malandro!!! Então isso escreve-se!? Estão a ver? Estão a ver no que dá a liberdade de expressão?! Ah, se te apanho! Oh! Oh! Oh! Ah! Se te agarro!
-LOL! LOL! LOL! LOL!
“Eu não quero ficar parado
fico velho
vou marchar até ao fim
isolado

Nesta marcha solitária
dou o corpo ao avançar
neste campo aberto ao céu
Eu não quero ficar parado
fico velho
vou marchar até ao fim
isolado

Nesta marcha solitária
dou o corpo ao avançar
neste campo aberto ao céu

Ninguém sabe
para onde eu vou
ninguém manda
em quem eu sou
sem cor nem Deus nem fado
eu estou desalinhado

Por tudo o que lutei
ser sincero
por tanto que arrisquei
ainda espero

Esta marcha imaginária
quantas baixas vai deixar
neste sonho desperto?”
“Marcha dos desalinhados”
Resistência.
Nesta sociedade comodista onde ainda existem alguns que regozijam com o silenciar da voz de uma causa que não é a sua.

sábado, 20 de dezembro de 2008

. . . FELIZ NATAL . . .


FELIZ NATAL
UM FELIZ NATAL AOS LINKADOS, AOS COMENTADORES E SEGUIDORES DESTE BLOGUE E A TODOS QUE O CIDADÃO VAI ACOMPANHANDO NA GLOBOSFERA… á Rosa Oliveira, aos principezinhos, á Fátima do “ataque de nervos”, á Rosa Negra, á Caty, á Dona Esmeralda, á Catarina, à Valquaresma Family, á Sandra, ao Pardal, á Ana Luísa Reis, ao Pedro Oliveira, ao João Baptista Pico, ao Zé da Cachoeira, ao Jorge F., a “El Comandante”, ao Paulo Alves, aos extraterrestres, ao Pózinhos de Perlim Pim Pim, ao Soutense, ao Cabo da Azinhaga, ao Manuel Baptista, ao Manuel Marques, ao Jeremias o fora da lei, ao Maldonado, ao barman do Souto, á AJAF, ao José Simões, ao Rui André, ao Nuno Gomes, ao Artur, ao António Almeida, ao ammfj, ao primo Nuno, ao Sardoaleventos, ao Prof., ao Taki-Talém, ao Tiagugrilu, ao Núcleo Escolar do Rossio, á Maria Marques, ao Sal, ao Carlos Moisés e aos Quinta do Bill, ao Anónimo I, ao Anónimo II, aos Hyubris, á Deolinda de mi corázón, a uma teenager muito linda de sua graça Sandrina… às belas, simples e singelas filhas dos pastores, a todas as estrelinhas cadentes que trespassam este céu, á minha famelga que é grande com’ó carais, a eu… e a tantos, tantos outros que bem conhecem o Cidadão, a Companheira, os Juniores e a Gata Cristie… aos que sabem quem eles são, aos que não sabem mas gostariam de saber e aos que tão bem os conhecem mas não sabem que são eles!

QUE SEJA VIVIDO E SENTIDO DO MODO DESEJADO, NUM FINAL DE ANO ANUNCIADOR DE CRISE MUNDIAL…
COM O DESEMPREGO E A INSTABILIDADE ECONÓMICA GRASSANDO NO SEIO DE INÚMERAS FAMÍLIAS, O OSTENSIVO E CONSUMISTA RITUAL DAS PRENDAS SERÁ CONCERTEZA, LIMITADO… O QUE NOS APROXIMARÁ AO ESSENCIAL DO ESPÍRITO DO NATAL…
ESPÍRITO ESSE, DE HUMILDADE, DE SIMPLICIDADE E DE SOBRIEDADE, POIS, PESARÁ A REFLEXÃO O ENCONTRO E O CONVÍVIO NO SEIO DAS FAMÍLIAS… TODO O RESTO VEM POR ACRESCENTO…
E P’RÓ ANO, FAÇAM O FAVOR DE SEREM FELIZES…
MAS… NÃO ESQUECENDO QUE NO MUNDO  HÁ NOSSAS SENHORAS E MENINOS ASSIM!

sábado, 13 de dezembro de 2008

RATA CEGA



RATA CEGA
Aconteceu num verão quente, finais dos anos setenta… cá o Cidadão aproveitava parte das “férias grandes”, no intervalo dos anos lectivos para melhor conhecer o Portugal profundo, calcorreando-o a penantes, utilizando o comboio ou o autocarro afim de se posicionar em regiões específicas… mas não julguem lá os ciberleitores que era só passeio…. Os primeiros quarenta e cinco dias de férias ocupavam-se a sacar uns trocos em trabalhos agrícolas investindo-os posteriormente em tais incursões, só, ou acompanhado com meia dúzia de aventureiros… desta feita, visto o pessoal preferir queimar as peles nas enseadas nacionais permanecendo em ociosos tédios de barriguinha para o ar, o Cidadão resolveu meter calcantes ao caminho e lá foi, de mochila tipo “setenta litros” ás costas, das primeiras estruturadas em alumínio a vaguearem pelo País, chapéu de abas largas, como sempre, cobrindo a cabeça emoldurada com dois palmos de cabelo, barba rala, esquecida há cinco dias, t’shirt negra, calças verde- azeitona com bolso a meio da perna, onde se conservavam pequenas barritas “Castelo” em torrão de caramelo e amendoim … “faplas” de rasto profundo… de meio cano em lona verde… na época, só existiam estas botas adequadas á caminhada, utilizadas pelas forças armadas em missões Africanas… cinturão e cantil igualmente militares adquiridos a preços acessíveis num sucateiro de materiais em segunda, terceira e tantas outras mãos, pois nessa época não existiam empresas para fabricar e vender aventuras por encomenda… faca de mato “Icel” embainhada á cintura, com cabo de marfim e lâmina de uns vinte centímetros, bem equilibrada, afiada e dimensionada, com lombada torneada a serrilha, um “contacto visual” desencorajador para as mentes mais perversas… caminhava nesta triste figura um Cidadão trinta anos mais novo, pelas estradas de alcatrão derretido no seu eixo, ao ser aquecido pelo Sol implacável… no entanto as bermas eram construídas em calçada de granito, brindadas pela sombra de carvalhos e castanheiros que ocultavam um diversificado manancial de vida nas frondosas galhas! Os terrenos do perímetro, escalavam meia encosta, demarcados por tosco rendilhado de muros construídos em seixos empilhados, colhidos no local, revelando o cariz minifundiário da região beirã da Serra da Estrela! Dá a ideia que nestas terras, as pedras nascem do chão! Em certas áreas, planícies verdejantes, revelando terrenos pantanosos destacavam-se da restante paisagem…eram os lameiros… A estrada passou a sinuosa, com algumas descidas e outras tantas subidas, difíceis de vencer a pé… os quilómetros calcorreados penosamente com passadas largas, firmes, rápidas e tecnicamente ritmadas… o Astro Rei descia suavemente no horizonte limitado pela encosta coberta de pinheiros… emanando um intenso e enjoativo odor… a pinho encalorado… mais adiante, num largozito, estava erigida uma capela branca… tão sozinha… com imponente torre sineira… sorrindo ao Cidadão… junto, uns bancos toscos, em granito, convidavam o viajante a repousar… mais ao lado, uma pia, a meia altura, também escavada no granito, abraçava uma singela torneira em cobre… o Cidadão desatarraxou o manípulo… corria água… primeiro quente, depois tépida… e finalmente, gelada! Deveria provir de alguma mina ali por perto… o Cidadão renovou a água do cantil… quando reparou numas fitas em papel crepe, suspensas em forma de coloridas bandeirinhas drapejando ao sabor da brisa do pôr do Sol… hum… havia festa por perto… afastou-se para debaixo da sombra de um castanheiro… arreou a pesada mochila, sentou-se a admirar os ouriços meio escachados, desmascarando umas castanhas apetitosas… sacou do pão, da faca de mato… de um “chouriço espanhol” já incertado… e pensava… onde iria montar a sua tenda canadiana para a pernoita… vislumbrava o espaço á sua volta… hum… talvez ali… por detrás daquele muro, abrigado do vento, o terreno era seco, menos pedregoso… a árvore de copa larga protegeria de eventual gravanejo nocturno… porque na serra, o clima é imprevisível… agora está agradável…mas daqui a meia hora poderá progredir um nevoeiro por detrás das encostas e formar-se uma pequena tempestade, típica dos micro climas… comia tranquilamente, quando lhe pareceu ouvir umas campainhas, um latir longínquo e assobios curtos e sequenciais… um balir… eram ovelhas, concerteza… o chocalhar tornou-se cada vez mais nítido e próximo, subitamente, lá adiante, ao cimo do atalho, surgiu um cãozito pequeno, de pelo curto e acastanhado… estacou, olhou de soslaio para o Cidadão… rosnou baixinho, sorriu com as orelhitas tombadas para trás… rabo esticado na horizontal… mau Maria… mas os cães não sorriem… portanto aquilo seria uma manifestação hostil… o Cidadão inverteu a posição da faca de mato que até então servia para talhar o pão… a lâmina discretamente apontada ao bicho, como quem não quer a coisa… o animal rosnava ameaçador, a saliva escorria-lhe entre os dentes caninos bastante bem estimados… o gajo tinha, com toda a certeza, ido ao dentista fazer um clareamento… as presas impunham respeito… entretanto, da mesma direcção, surgiu uma ovelha, depois outra, ainda outra, balindo, chocalhando… apareceu outro cão… este sim, aparentava-se mais a uma vaca do que a um canídeo… reparando bem na corpulência do animal… um imponente e felpudo Serra da Estrela… grande bicho, sim senhores… a coisa estava a ficar preta… o bicharoco aproximou-se cabisbaixo com aqueles enormes olhos castanho claros… farejando calmamente o Cidadão… talvez devido á sua estatura, não necessitasse de impôr respeito, como o primeiro pingente… farejou o naco de pão com chouriço… hum…e foi aqui que o Cidadão teve uma brilhante ideia! Tirou suavemente, uma rodela de chouriço do interior do pão e, lentamente, sem movimentos bruscos… deitou-a ao animal… que a apanhou no ar! Ora, ora… quebrou-se o gelo! O bicho foi de abanar a cauda, zás, zás, zás, e meter as patorras dianteiras em cima cá do menino que se encontrava sentado, portanto em posição desvantajosa, dando-lhe, precisamente duas valentes lambedelas na cara!
-Xó! Tira daí… seu brutamontes!
O mais pequinês entrou na festa, e quando o Cidadão se deu conta, estava rodeado de um rebanho de ovelhas, um pastor e dois cães chatos como a putassa! O pastor arrastou seu chapéu para trás coçando o prolongamento da testa revelando alguma calvície, se calhar, por já a ter coçado muitas outras vezes num acto reflexivo e segurando o cajado com a mão esquerda, com ar desconfiado, lançou esta demanda:
-O que é que bochemexê anda a faxer por aqui?
-Boas, ando a conhecer o Mundo!
-Atão ixto aqui também é o Mundo?
-Concerteza!
-E cumo veio dar aqui?
Cá o Cidadão teve que contar a história toda, até ali chegar.
-E donde é que bochemexê bem?
Foram explicadas, pacientemente as origens cá do rapaz, tintim por tintim., tendo como ouvinte um pastor de olhar distante e admirado.
-Ou bochemexê é um grande mentiroso, ou pela a xua idade… é xá munto biachado!
-Olhe, é como queira!
Respondeu o Cidadão.
-Sabe… está a fazer-se escuro e preciso montar a minha tenda… será que o posso fazer além, atrás daquele muro?
-Boxê tem uma tenda? Mas não vejo aqui tenda nenhuma!
-Uma tenda é assim uma casinha de pano, daquelas para fazer campismo!
-Ah! Bochemexê quer dixer uma barraica!
-Isso mesmo! Uma barraca de pano!
-Sim, pode ser além! Aquilo é do Tónho Xaquim mas ele num xemporta lá com ixo, não é para ficar munto tempo… pois não?!
- Não, só até amanhã!...Ouça cá… poderia afastar daqui os seus cães, que me comem o chouriço todo?
-Piloto! Carola! Fuitt! Xaiam daí, já! Vai! Vai! Vai! Xóó!
-Então… e você, como se chama?
-Oh! Pááá! Xé do Cabo!
-Como? Ché do quê?
-Xé do Cabo! Carais!
-Ah! Olhe, vou então para ali montar a tenda…
-Então vá lá, queu fico p’ráqui a tomar recado do rebanho…
E assim, cá o Cidadão despachou-se a montar a canadiana “André Jamet” no sitio visionado… enquanto o ia fazendo, reparou que o Senhor Zé do Cabo se pôs a rodopiar com as ovelhas em torno da capela, constantemente e em círculos, com esta á esquerda, assim foi andando, assobiando ás ovelhas que iam formando uma fila indiana, como que mordendo as caudas umas das outras… o pastor continuava, agora já corria, com os ovinos atrás uns dos outros, os cães com o seu latir, acompanham por fora do círculo… subitamente, o homem deixou de se ver, simplesmente se evaporou! Sumiu, desapareceu sem deixar rasto, mas as ovelhas prosseguiram a sua constante e incansável correria, umas atrás das outras, num seguidismo incegueirado! Fantástico! O Cidadão, já com a canadiana meio armada, parou de bater estacas apreciando aquele bonito serviço! Pensou…e assim ficou mergulhado por alguns minutos, chegando á conclusão que nas coisas mais simples da natureza e do povo se colhem grandes lições!
-Atão Xá está?
-Ãh?
Que susto! Não é que o Senhor Zé do Cabo tinha surgido mesmo por detrás do Cidadão?
-Oixa cá… estive a penxar e bochemexê podia ir dormir a minha caxa… pra não ficar praqui ao relento…
-Isso não! Pelo amor de Deus! Eu gosto mesmo de andar assim! Prefiro mesmo dormir aqui!... A sério!
-Untão oucha! Bochemexê bem até minha caxa tomar uma pinguita e comer um caldo berde bem quintinho!
-È longe?
-Num! È aqui perto… não chega a um quarto de légua! È ali na aldeia…
- Pode ser…Como se chama?
-O quê?
-Essa aldeia…
-Bale de Estrela… Bá, bamos lá, ande!
-Ah! Deixe-me acabar aqui este serviço… sacar a lanterna… e do Kispo… pode vir chuva ou frio… o gorro… ouça lá, não se importa que leve aqui a faca de mato. Olhe… ou então… leve-a você…
-Bochemexê é um bocado chismático! Por aqui as pexôas chão de
Cunfianxa… carais!
- Quer dizer… e ninguém me vem mexer aqui no material? …
-Ena! Até têm rexeio dixo, catano! Fique p’raí descanxado!Nunguém le bem mexer nas cousas!
Assim calcorreámos um quilómetro até chegarmos já noite, á aldeia de Vale de Estrela… eu, o pastor, as ovelhas numa algazarra de balidos, os cães saltitantes e felizes, talvez por terem uma nova companhia… assobios, o pastor arredou o portão do curral, misto de palheiro… acendeu um candeeiro a petróleo… erguendo-o pendurou-o numa trave. Do outro lado da rua abriu-se uma porta de casa… dentro desta jorrou forte luz… e uma voz fininha e melodiosa de menina soou na claridade daquelas aduelas… exclamando:
-Pai! Pai! Já chegaste? Hoje vieste mais tarde… o que te acontexeu?
Era uma linda rapariga… cabelos castanho-claros longos e soltos, rosto cheio e rosado, seios desenvoltos sob uma blusa branca, rendilhada, saiote de camponesa, socas protegendo uns lindos pés, aparentando dezasseis anos… ou pouco mais!
- Ó home, pregaste-nos cá um grande xus… mas… quem é eche caí traxes?!
Tinha surgido a Maria do Zé do Cabo, mulher desenxovalhada e com algum buço…
-Oh Maria, olha o que encontrei ali junto á capela! Há caldo para mais um?
-Olá!...
Cumprimentou a rapariga, com olhos cintilantes de azeitona, e ainda mais corada!
-Olá…
-Como te chamas?
Questionou a moçoila, com olhar cabisbaixo e as mãos embaraçadas no fundo das pontas da blusa…
E o Cidadão disse…
-E tu, como te chamas?
Ela respondeu…Entretanto, surgiu dos fundos da casa uma moçoila mais velha, aparentando outra maturidade, vestida de escuro, lenço na cabeça, avental e mãos cobertas de farinha, provavelmente na confecção de gulodices, que o Cidadão veio a degustar… os maravilhosos cuscurões da região, cobertos por um manto de açúcar… e malandreco, ainda pensou…
“-Haverão mais… moçoilas assim bonitas nesta casa? Parece-me bem que não…”
Eram duas belas representantes da arte e da perfeição da natureza… duas Afrodites! O Cidadão abancou… não assentou porque aquilo era um banquito, na região chama-se mocho… bebeu uns copitos de palheto vertido pelo rude pastor, comeu um quentinho e aromático caldo verde recheado de chouriço, pão caseiro… repetiu, contou algumas das suas aventuras… e elas ouviram fascinadas, fizeram dezenas de perguntas…o Cidadão foi respondendo… dando contas do Mundo…cantaram-se umas modinhas populares… o pastor emprestou a sua flauta de cana… o Cidadão arrancou dela músicas dos Andes…”El Condor Pasa”, modinhas de intervenção…”A Gaivota”…”Grândola Vila Morena”… “Abril em Portugal”… “Pedra Filosofal”… e tantas outras melodias aprendidas nos escuteiros… tudo isto, com uma gaita que não era a sua… o tempo escorreu… não havia televisor naquele lar…um lar pobrezinho, espartano mas… hospitaleiro, ternurento, com enorme riqueza de calor humano… comeu coscorões, bebeu uma aguardente de zimbro, seguiu-se um licor de amoras confeccionado pela rapariga mais velha da casa que fez questão em o oferecer… e, ao desafio com a irmã, deitavam uns olhares cúmplices ao Cidadão… que só as conhecera a umas escassas horas… os olhitos cintilantes das irmãs… o sorriso ternurento da Mãe… o voto de confiança do Zé do Cabo, surpreendido de como é que, da sua flauta de cana, saíam melodias assim… o pastor que convidou em boa hora, o Cidadão a cear em sua casa, mal o conhecendo… sentia-se reconhecido… mais uma lição de simplicidade, de vida, de hospitalidade e de dádiva estava ali a ser escrita por todos nós! Fazia-se história… escrevia-se esta história!
-Então, vais axim embora? Observou a mais nova das irmãs.
-Pois, vai sendo meia noite…
-Tem cuidado com os lobos! Avisou apreensivamente, a mais velha.
-Ah, senhor Zé, o meu cinturão!
-Vou buscar… Tome, aqui está!
-Ai, que horror! Um facalhão tão grande! Para que queres isso! Perguntou a rapariga mais velha…
-Olha, por exemplo para cortar o pão, talhar o chouriço…
-E mais, e mais?
-Para me defender das pessoas más…
-E dos lobos?
-Os lobos não nos fazem mal!
-Isso é o que tu julgas!
-Prontos, já chega, que o rapaz querxe ir deitar, não xejam aborrechidas!
Interveio o Pai.
Assim se foi o Cidadão, numa noite estrelada dum Agosto… constatando que o verão nocturno das beiras era diferente de todo o resto… até o céu, de noite, era diferente… noites beirãs… já ouviram falar? Uma estrela cadente cruzou o firmamento…ali mais outra… seria uma mensagem… ou uma despedida… o pio da coruja, fazia-se anunciar… porra… porra… porra…, pensava cá o Cidadão, caminhando sozinho em direcção á capela de Vale de Estrela e á sua tenda… por que raio as amizades haverão que conduzir ao sofrimento? Deitou-se… contou carneirinhos… cansado que estava, passados uns minutos deixou de ver… de ouvir… de sentir…
Um forte chilrear da passarada… que horas seriam? Sete… O Sol aquecia o duplo tecto em algodão azul… cheirava a erva húmida… um restolhar junto á porta da tenda… hum… havia por ali qualquer coisa a mexer… seria pássaro… seria cobra… a faca de mato… o Cidadão abriu o fecho èclair com jeito… devagar… os raios solares disputavam o seu espaço com a neblina, tracejando-a por entre os pinheiros e os castanheiros, em diagonal, criando um efeito digno de postal ilustrado. Que madrugada espectacular acompanhada pela sinfonia da passarada! A vida diurna iniciava-se lá fora… e aquele restolhar… olha… um ratito… pequeno… ou uma ratita, talvez… castanha… escura… fossava a folhagem caída junto da tenda… o Cidadão fez um gesto brusco para a afastar… e ela indiferente… voltou ao mesmo gesto… e ela, nada… continuava entretida com a sua azáfama… que bicho esquisito, este! O cidadão sacou da naifa passando-lhe a lâmina brilhante á frente dos olhitos,,, e ela, nada…estava tudo explicado…
Era uma rata cega!