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Este militante anti-cinzentista adverte que o blogue poderá conter textos ou imagens socialmente chocantes, pelo que a sua execução incomodará algumas mentalidades mais conservadoras ou sensíveis, não pretendendo pactuar com o padronizado, correndo o risco de se tornar de difícil assimilação e aceitação para alguns leitores! Se isso ocorrer, então estará a alcançar os seus objectivos, agitando consciências acomodadas, automatizadas, adormecidas... ou anestesiadas por fórmulas e conceitos preconcebidos. Embora parte dos seus artigos possam "condimenta-se" com alguma "gíria", não confundirá "liberdade com libertinagem de expressão" no principio de que "a nossa liberdade termina onde começa a dos outros".(K.Marx). Apresentará o conteúdo dos seus posts de modo satírico, irónico, sarcástico e por vezes corrosivo, ou profundo e reflexivo, pausadamente, daí o insistente uso de reticências, para que no termo das suas análises, os ciberleitores olhem o mundo de uma maneira um pouco diferente... e tendam a "deixá-lo um bocadinho melhor do que o encontraram" (B.Powell).Na coluna à esquerda, o ciberleitor encontrará uma lista de blogues a consultar, abrangendo distintas correntes político-partidárias ou sociais, o que não significará a conotação ou a "rotulagem" do Cidadão com alguma delas... mas somente o enriquecimento com a sua abertura e análise às diferenciadas ideias e opiniões, porquanto os mesmos abordam temas pertinentes, actuais e válidos para todos nós, dando especial atenção aos "nossos" blogues autóctones. Uma acutilância daqui, uma ironia dali e uma dica do além... Ligue o som e passe por bons e espirituosos momentos...

sábado, 13 de dezembro de 2008

RATA CEGA



RATA CEGA
Aconteceu num verão quente, finais dos anos setenta… cá o Cidadão aproveitava parte das “férias grandes”, no intervalo dos anos lectivos para melhor conhecer o Portugal profundo, calcorreando-o a penantes, utilizando o comboio ou o autocarro afim de se posicionar em regiões específicas… mas não julguem lá os ciberleitores que era só passeio…. Os primeiros quarenta e cinco dias de férias ocupavam-se a sacar uns trocos em trabalhos agrícolas investindo-os posteriormente em tais incursões, só, ou acompanhado com meia dúzia de aventureiros… desta feita, visto o pessoal preferir queimar as peles nas enseadas nacionais permanecendo em ociosos tédios de barriguinha para o ar, o Cidadão resolveu meter calcantes ao caminho e lá foi, de mochila tipo “setenta litros” ás costas, das primeiras estruturadas em alumínio a vaguearem pelo País, chapéu de abas largas, como sempre, cobrindo a cabeça emoldurada com dois palmos de cabelo, barba rala, esquecida há cinco dias, t’shirt negra, calças verde- azeitona com bolso a meio da perna, onde se conservavam pequenas barritas “Castelo” em torrão de caramelo e amendoim … “faplas” de rasto profundo… de meio cano em lona verde… na época, só existiam estas botas adequadas á caminhada, utilizadas pelas forças armadas em missões Africanas… cinturão e cantil igualmente militares adquiridos a preços acessíveis num sucateiro de materiais em segunda, terceira e tantas outras mãos, pois nessa época não existiam empresas para fabricar e vender aventuras por encomenda… faca de mato “Icel” embainhada á cintura, com cabo de marfim e lâmina de uns vinte centímetros, bem equilibrada, afiada e dimensionada, com lombada torneada a serrilha, um “contacto visual” desencorajador para as mentes mais perversas… caminhava nesta triste figura um Cidadão trinta anos mais novo, pelas estradas de alcatrão derretido no seu eixo, ao ser aquecido pelo Sol implacável… no entanto as bermas eram construídas em calçada de granito, brindadas pela sombra de carvalhos e castanheiros que ocultavam um diversificado manancial de vida nas frondosas galhas! Os terrenos do perímetro, escalavam meia encosta, demarcados por tosco rendilhado de muros construídos em seixos empilhados, colhidos no local, revelando o cariz minifundiário da região beirã da Serra da Estrela! Dá a ideia que nestas terras, as pedras nascem do chão! Em certas áreas, planícies verdejantes, revelando terrenos pantanosos destacavam-se da restante paisagem…eram os lameiros… A estrada passou a sinuosa, com algumas descidas e outras tantas subidas, difíceis de vencer a pé… os quilómetros calcorreados penosamente com passadas largas, firmes, rápidas e tecnicamente ritmadas… o Astro Rei descia suavemente no horizonte limitado pela encosta coberta de pinheiros… emanando um intenso e enjoativo odor… a pinho encalorado… mais adiante, num largozito, estava erigida uma capela branca… tão sozinha… com imponente torre sineira… sorrindo ao Cidadão… junto, uns bancos toscos, em granito, convidavam o viajante a repousar… mais ao lado, uma pia, a meia altura, também escavada no granito, abraçava uma singela torneira em cobre… o Cidadão desatarraxou o manípulo… corria água… primeiro quente, depois tépida… e finalmente, gelada! Deveria provir de alguma mina ali por perto… o Cidadão renovou a água do cantil… quando reparou numas fitas em papel crepe, suspensas em forma de coloridas bandeirinhas drapejando ao sabor da brisa do pôr do Sol… hum… havia festa por perto… afastou-se para debaixo da sombra de um castanheiro… arreou a pesada mochila, sentou-se a admirar os ouriços meio escachados, desmascarando umas castanhas apetitosas… sacou do pão, da faca de mato… de um “chouriço espanhol” já incertado… e pensava… onde iria montar a sua tenda canadiana para a pernoita… vislumbrava o espaço á sua volta… hum… talvez ali… por detrás daquele muro, abrigado do vento, o terreno era seco, menos pedregoso… a árvore de copa larga protegeria de eventual gravanejo nocturno… porque na serra, o clima é imprevisível… agora está agradável…mas daqui a meia hora poderá progredir um nevoeiro por detrás das encostas e formar-se uma pequena tempestade, típica dos micro climas… comia tranquilamente, quando lhe pareceu ouvir umas campainhas, um latir longínquo e assobios curtos e sequenciais… um balir… eram ovelhas, concerteza… o chocalhar tornou-se cada vez mais nítido e próximo, subitamente, lá adiante, ao cimo do atalho, surgiu um cãozito pequeno, de pelo curto e acastanhado… estacou, olhou de soslaio para o Cidadão… rosnou baixinho, sorriu com as orelhitas tombadas para trás… rabo esticado na horizontal… mau Maria… mas os cães não sorriem… portanto aquilo seria uma manifestação hostil… o Cidadão inverteu a posição da faca de mato que até então servia para talhar o pão… a lâmina discretamente apontada ao bicho, como quem não quer a coisa… o animal rosnava ameaçador, a saliva escorria-lhe entre os dentes caninos bastante bem estimados… o gajo tinha, com toda a certeza, ido ao dentista fazer um clareamento… as presas impunham respeito… entretanto, da mesma direcção, surgiu uma ovelha, depois outra, ainda outra, balindo, chocalhando… apareceu outro cão… este sim, aparentava-se mais a uma vaca do que a um canídeo… reparando bem na corpulência do animal… um imponente e felpudo Serra da Estrela… grande bicho, sim senhores… a coisa estava a ficar preta… o bicharoco aproximou-se cabisbaixo com aqueles enormes olhos castanho claros… farejando calmamente o Cidadão… talvez devido á sua estatura, não necessitasse de impôr respeito, como o primeiro pingente… farejou o naco de pão com chouriço… hum…e foi aqui que o Cidadão teve uma brilhante ideia! Tirou suavemente, uma rodela de chouriço do interior do pão e, lentamente, sem movimentos bruscos… deitou-a ao animal… que a apanhou no ar! Ora, ora… quebrou-se o gelo! O bicho foi de abanar a cauda, zás, zás, zás, e meter as patorras dianteiras em cima cá do menino que se encontrava sentado, portanto em posição desvantajosa, dando-lhe, precisamente duas valentes lambedelas na cara!
-Xó! Tira daí… seu brutamontes!
O mais pequinês entrou na festa, e quando o Cidadão se deu conta, estava rodeado de um rebanho de ovelhas, um pastor e dois cães chatos como a putassa! O pastor arrastou seu chapéu para trás coçando o prolongamento da testa revelando alguma calvície, se calhar, por já a ter coçado muitas outras vezes num acto reflexivo e segurando o cajado com a mão esquerda, com ar desconfiado, lançou esta demanda:
-O que é que bochemexê anda a faxer por aqui?
-Boas, ando a conhecer o Mundo!
-Atão ixto aqui também é o Mundo?
-Concerteza!
-E cumo veio dar aqui?
Cá o Cidadão teve que contar a história toda, até ali chegar.
-E donde é que bochemexê bem?
Foram explicadas, pacientemente as origens cá do rapaz, tintim por tintim., tendo como ouvinte um pastor de olhar distante e admirado.
-Ou bochemexê é um grande mentiroso, ou pela a xua idade… é xá munto biachado!
-Olhe, é como queira!
Respondeu o Cidadão.
-Sabe… está a fazer-se escuro e preciso montar a minha tenda… será que o posso fazer além, atrás daquele muro?
-Boxê tem uma tenda? Mas não vejo aqui tenda nenhuma!
-Uma tenda é assim uma casinha de pano, daquelas para fazer campismo!
-Ah! Bochemexê quer dixer uma barraica!
-Isso mesmo! Uma barraca de pano!
-Sim, pode ser além! Aquilo é do Tónho Xaquim mas ele num xemporta lá com ixo, não é para ficar munto tempo… pois não?!
- Não, só até amanhã!...Ouça cá… poderia afastar daqui os seus cães, que me comem o chouriço todo?
-Piloto! Carola! Fuitt! Xaiam daí, já! Vai! Vai! Vai! Xóó!
-Então… e você, como se chama?
-Oh! Pááá! Xé do Cabo!
-Como? Ché do quê?
-Xé do Cabo! Carais!
-Ah! Olhe, vou então para ali montar a tenda…
-Então vá lá, queu fico p’ráqui a tomar recado do rebanho…
E assim, cá o Cidadão despachou-se a montar a canadiana “André Jamet” no sitio visionado… enquanto o ia fazendo, reparou que o Senhor Zé do Cabo se pôs a rodopiar com as ovelhas em torno da capela, constantemente e em círculos, com esta á esquerda, assim foi andando, assobiando ás ovelhas que iam formando uma fila indiana, como que mordendo as caudas umas das outras… o pastor continuava, agora já corria, com os ovinos atrás uns dos outros, os cães com o seu latir, acompanham por fora do círculo… subitamente, o homem deixou de se ver, simplesmente se evaporou! Sumiu, desapareceu sem deixar rasto, mas as ovelhas prosseguiram a sua constante e incansável correria, umas atrás das outras, num seguidismo incegueirado! Fantástico! O Cidadão, já com a canadiana meio armada, parou de bater estacas apreciando aquele bonito serviço! Pensou…e assim ficou mergulhado por alguns minutos, chegando á conclusão que nas coisas mais simples da natureza e do povo se colhem grandes lições!
-Atão Xá está?
-Ãh?
Que susto! Não é que o Senhor Zé do Cabo tinha surgido mesmo por detrás do Cidadão?
-Oixa cá… estive a penxar e bochemexê podia ir dormir a minha caxa… pra não ficar praqui ao relento…
-Isso não! Pelo amor de Deus! Eu gosto mesmo de andar assim! Prefiro mesmo dormir aqui!... A sério!
-Untão oucha! Bochemexê bem até minha caxa tomar uma pinguita e comer um caldo berde bem quintinho!
-È longe?
-Num! È aqui perto… não chega a um quarto de légua! È ali na aldeia…
- Pode ser…Como se chama?
-O quê?
-Essa aldeia…
-Bale de Estrela… Bá, bamos lá, ande!
-Ah! Deixe-me acabar aqui este serviço… sacar a lanterna… e do Kispo… pode vir chuva ou frio… o gorro… ouça lá, não se importa que leve aqui a faca de mato. Olhe… ou então… leve-a você…
-Bochemexê é um bocado chismático! Por aqui as pexôas chão de
Cunfianxa… carais!
- Quer dizer… e ninguém me vem mexer aqui no material? …
-Ena! Até têm rexeio dixo, catano! Fique p’raí descanxado!Nunguém le bem mexer nas cousas!
Assim calcorreámos um quilómetro até chegarmos já noite, á aldeia de Vale de Estrela… eu, o pastor, as ovelhas numa algazarra de balidos, os cães saltitantes e felizes, talvez por terem uma nova companhia… assobios, o pastor arredou o portão do curral, misto de palheiro… acendeu um candeeiro a petróleo… erguendo-o pendurou-o numa trave. Do outro lado da rua abriu-se uma porta de casa… dentro desta jorrou forte luz… e uma voz fininha e melodiosa de menina soou na claridade daquelas aduelas… exclamando:
-Pai! Pai! Já chegaste? Hoje vieste mais tarde… o que te acontexeu?
Era uma linda rapariga… cabelos castanho-claros longos e soltos, rosto cheio e rosado, seios desenvoltos sob uma blusa branca, rendilhada, saiote de camponesa, socas protegendo uns lindos pés, aparentando dezasseis anos… ou pouco mais!
- Ó home, pregaste-nos cá um grande xus… mas… quem é eche caí traxes?!
Tinha surgido a Maria do Zé do Cabo, mulher desenxovalhada e com algum buço…
-Oh Maria, olha o que encontrei ali junto á capela! Há caldo para mais um?
-Olá!...
Cumprimentou a rapariga, com olhos cintilantes de azeitona, e ainda mais corada!
-Olá…
-Como te chamas?
Questionou a moçoila, com olhar cabisbaixo e as mãos embaraçadas no fundo das pontas da blusa…
E o Cidadão disse…
-E tu, como te chamas?
Ela respondeu…Entretanto, surgiu dos fundos da casa uma moçoila mais velha, aparentando outra maturidade, vestida de escuro, lenço na cabeça, avental e mãos cobertas de farinha, provavelmente na confecção de gulodices, que o Cidadão veio a degustar… os maravilhosos cuscurões da região, cobertos por um manto de açúcar… e malandreco, ainda pensou…
“-Haverão mais… moçoilas assim bonitas nesta casa? Parece-me bem que não…”
Eram duas belas representantes da arte e da perfeição da natureza… duas Afrodites! O Cidadão abancou… não assentou porque aquilo era um banquito, na região chama-se mocho… bebeu uns copitos de palheto vertido pelo rude pastor, comeu um quentinho e aromático caldo verde recheado de chouriço, pão caseiro… repetiu, contou algumas das suas aventuras… e elas ouviram fascinadas, fizeram dezenas de perguntas…o Cidadão foi respondendo… dando contas do Mundo…cantaram-se umas modinhas populares… o pastor emprestou a sua flauta de cana… o Cidadão arrancou dela músicas dos Andes…”El Condor Pasa”, modinhas de intervenção…”A Gaivota”…”Grândola Vila Morena”… “Abril em Portugal”… “Pedra Filosofal”… e tantas outras melodias aprendidas nos escuteiros… tudo isto, com uma gaita que não era a sua… o tempo escorreu… não havia televisor naquele lar…um lar pobrezinho, espartano mas… hospitaleiro, ternurento, com enorme riqueza de calor humano… comeu coscorões, bebeu uma aguardente de zimbro, seguiu-se um licor de amoras confeccionado pela rapariga mais velha da casa que fez questão em o oferecer… e, ao desafio com a irmã, deitavam uns olhares cúmplices ao Cidadão… que só as conhecera a umas escassas horas… os olhitos cintilantes das irmãs… o sorriso ternurento da Mãe… o voto de confiança do Zé do Cabo, surpreendido de como é que, da sua flauta de cana, saíam melodias assim… o pastor que convidou em boa hora, o Cidadão a cear em sua casa, mal o conhecendo… sentia-se reconhecido… mais uma lição de simplicidade, de vida, de hospitalidade e de dádiva estava ali a ser escrita por todos nós! Fazia-se história… escrevia-se esta história!
-Então, vais axim embora? Observou a mais nova das irmãs.
-Pois, vai sendo meia noite…
-Tem cuidado com os lobos! Avisou apreensivamente, a mais velha.
-Ah, senhor Zé, o meu cinturão!
-Vou buscar… Tome, aqui está!
-Ai, que horror! Um facalhão tão grande! Para que queres isso! Perguntou a rapariga mais velha…
-Olha, por exemplo para cortar o pão, talhar o chouriço…
-E mais, e mais?
-Para me defender das pessoas más…
-E dos lobos?
-Os lobos não nos fazem mal!
-Isso é o que tu julgas!
-Prontos, já chega, que o rapaz querxe ir deitar, não xejam aborrechidas!
Interveio o Pai.
Assim se foi o Cidadão, numa noite estrelada dum Agosto… constatando que o verão nocturno das beiras era diferente de todo o resto… até o céu, de noite, era diferente… noites beirãs… já ouviram falar? Uma estrela cadente cruzou o firmamento…ali mais outra… seria uma mensagem… ou uma despedida… o pio da coruja, fazia-se anunciar… porra… porra… porra…, pensava cá o Cidadão, caminhando sozinho em direcção á capela de Vale de Estrela e á sua tenda… por que raio as amizades haverão que conduzir ao sofrimento? Deitou-se… contou carneirinhos… cansado que estava, passados uns minutos deixou de ver… de ouvir… de sentir…
Um forte chilrear da passarada… que horas seriam? Sete… O Sol aquecia o duplo tecto em algodão azul… cheirava a erva húmida… um restolhar junto á porta da tenda… hum… havia por ali qualquer coisa a mexer… seria pássaro… seria cobra… a faca de mato… o Cidadão abriu o fecho èclair com jeito… devagar… os raios solares disputavam o seu espaço com a neblina, tracejando-a por entre os pinheiros e os castanheiros, em diagonal, criando um efeito digno de postal ilustrado. Que madrugada espectacular acompanhada pela sinfonia da passarada! A vida diurna iniciava-se lá fora… e aquele restolhar… olha… um ratito… pequeno… ou uma ratita, talvez… castanha… escura… fossava a folhagem caída junto da tenda… o Cidadão fez um gesto brusco para a afastar… e ela indiferente… voltou ao mesmo gesto… e ela, nada… continuava entretida com a sua azáfama… que bicho esquisito, este! O cidadão sacou da naifa passando-lhe a lâmina brilhante á frente dos olhitos,,, e ela, nada…estava tudo explicado…
Era uma rata cega!

20 comentários:

Paulo disse...

Fiquei fascinado com esta história. Cada frase transporta-nos para uma nova situação.
Mais uma lição de vida...simplicidade, acolhimento, coisas que vamos deixando desaparecer, ou simplesmente não sabemos o que é...

Gostava de experimentar tamanhas sensações, calcorrear a serra e acordar de manhãzinha com a orquestra ornitológica.

Obrigado por este relato.
Parabéns.
Abraço!
Paulo Alves

Anónimo disse...

Uma história de vida, uma lição de simplicidade.
Ratas cegas somos todos nós, que muitas vezes deixamos passar a vida ao lado, tão obcecados andamos com as modas e o consumismo desenfreado. Na simplicidade de um pastor e das suas duas lindas filhas, sem a intoxicação da comunicação social mora tanta virtude! As ovelhas em torno da capela, sei que isso existe, sei que isso é uma tradição em terras nortenhas...e das terras beirãs... as noites quentes e estreladas das beiras, você sabe da poda!Cobiço as suas noites ao relento, cobiço a sua juventude, a juventude que teve e a juventude que aparenta ter. Mas você, caro concidadão, com essa história das ovelhas quer transmitir-nos outra mensagem, como é já sua marca, e seu cunho pessoal... vou-me habituando a decifrá-lo, e essa mensagem é?
Será talvez o seguidismo, a ausência de opinião e vontade própria, não é assim? Não pensamos por nós mesmos, mas seguimos cegamente os pensamentos e os ideais dos outros! Se se deitarem ao poço, nós também o faremos!Olhe que me emocionou um bocadinho com esse relato.Intenso.
Artur :)

Maria Marques disse...

Mais um relato muito bem conseguido que nos transporta a décadas passadas.
A figura típica e ternurenta do Zé do Cabo
que me tocou particularmente e revela com fidedignidade o despojamento,a simplicidade genuína ,a hospitalidade da gente beirã.O jovem escuteiro com o seu espírito de aventura,as filhas do Zé do Cabo ,retratadas de uma maneira muito engraçada e real,o final da narração....A rata cega!!!
Interessantíssimo!
Acredito que ainda hoje,será possível encontrar naquelas terras,apesar da descaracterização e desertificação,alguns Xés do Cabo,prontos a receber forasteiros,com toda a simplicidade.Meninas como aquelas ,não encontrará .No mês de Agosto poderá ver poucas jovens (quase todas produzidas ,americanizadas ou afrancesadas...
Como admiradora do cidadão,permita-me que lhe proponha a edição de uns livrinhos.Iria ter sucesso.
Parabéns.
Maria

O Cidadão abt disse...

Pode crer, Maria Marques, que se meter os pés ao caminho, encontrará, com certeza, um Zé do Cabo e uma Ti Maria, algures nos confins dos rochedos beirãos, perdidos em alguma aldeia de granito, e descansar num banco de pedra, corrido, protegido pela sombra de uma enorme nogueira!Talvez... também... por lá encontre um rude caldo verde, um pão arrancado do forno e muita hospitalidade! No caminho, talvez... ainda se cruze com duas pachorrentas vacas jarmeleiras, arrastando penosamente uma carroça de madeira com o seu eixo libertando um gemido prolongado... talvez... viajando no tempo... talvez... viajando no espaço... talvez...

O Cidadão abt disse...

Pois é, caro Paulo Alves... não é a desperdiçar-mos tempo em discotecas, não é a passarmos as manhãs fechados em casa, não é desperdiçando as férias invariavelmente na praia, não é investindo os fins de semana em templos de consumo, não é corrermos para os estádios de futebol, não é abancando em cafés que descobrimos as pequeninas dádivas das grandes maravilhas da vida!

O Cidadão abt disse...

Caro Artur, cobiça, ou inveja a minha juventude?... fico feliz pelo meu umbigo, mas fico triste por si
È uma questão de postura e "estilo" de vida e não se deixar acinzentar!

Anónimo disse...

Rata cega, rata cega,
És uma tipa especial.
Não mordeste ao Cidadão
Porque ele não te fez mal.
...
E agora?
Até uma rata cega vislumbra a qualidade do seu opositor. Com um facalhão na mão, mas apenas para lhe oferecer um pedaço de queijo da serra.
Mas cuidado, caro cidadão, pois a gente das Beiras não é assim tão mansinha, sobretudo quando lhe chega a mostarda ao nariz! Que o diga a minha pessoa que ousou casar com uma cachopa dessas bandas sem pedir a mão à família...
Um abração do sobrinho de um tio José do Cabo sem X.

r disse...

Por que rodopiam as ovelhas em torno da igreja?

O Cidadão abt disse...

"Por que rodopiam as ovelhas em torno da igreja?"
Ora bem... aqui temos uma questão pertinente. Diria cá o Cidadão, que andam á procura do pastor... não por uma questão de Fé, mas porque se habituaram a seguir umas atrás das outras no seu viver, confiando na cauda da que lhes precede, por outras "palavras" limitam a sua visão ao "traseiro da antecedente...a partir deste ponto poderemos tirar duas ilações para a pertinente questão... mas como com uma Dama, o Cidadão não brejeira, não se irá perder com a malandrice... no contexto, como o guia era o pastor, e seguia-lhe a ovelha mestra, deixaram de se ver no seu conjunto, devido à obstrução do templo... a dado momento o pastor esconde-se (foge) e a ovelha mestra passa a seguir a cauda de "la última de la fila"!E assim rodopiam em torno da capela, infinitivamente, até atingirem a exaustão. Diremos que, em termos da defesa dos animais, esta prática resulta numa sevícia. No entanto, com os humanos, isto também acontece, o tal seguidismo cego atrás de uma sigla, de uma cor, de um clube ou de uma pessoa... e fá-lo com a ilusória satisfação de se sentir realizado, auto flagelando-se, até que um dia... acorda ou então entra em exaustão e em rotura consigo mesmo ou com o sistema! Prontos, cá o Cidadão já sabe que lhe vai questionar com a religião... sim senhor, aí isso também acontece e em grande escala, sendo usada para serem alcançados os mais diversos objectivos, e aí sim:
Invoca-se, à fartazana, o nome de DEUS em vão!

Anónimo disse...

Mais um conto maravilhoso, um poema disfarçado de prosa, Tem bebido muito de Torga, o seu mestre, naturalmente, salta-nos à ideia. As duas estrelas cadentes, atrevermeia a perguntar-lhe: representam, as duas filhas do pastor? E você Cidadão, também lhe atrevo a questionar,e não me interprete mal; Tem, consigo, uma destas estrelas?
Mudando de assunto e dando continuidade à sua resposta anterior que muito me agradou, qual a forma de as ovelhas quebrarem esse círculo vicioso e fechado, antes de entrarem em exaustão?
Um Prof. das matérias

O Cidadão abt disse...

Quando cá o Cidadão prosar sobre o Ribatejo e suas gentes ribeirinhas, observará o Prof. que encontrou o Redol e o Soeiro... Mas também bebeu do Aquilino, do Abelaira...e do Manuel da Fonseca...
Quanto ás estrelas cadentes eram... as duas belas filhas do pastor... desaparecendo no horizonte infinito de um céu estrelado!
Cá o Cidadão tem sim senhor, uma estrela maravilhosa que lhe guia o caminho!
Quanto à questão das ovelhas, ou o pastor se integrava novamente no circuito desfazendo a cegueira das ovelhas como aconteceu no caso ou, uma delas tomava a iniciativa de erguer a cabeça, alcançando um maior ângulo de visão e mais horizonte, seguindo outros rumos, inicialmente acompanhada pelas restantes, e, tresmalhando-se o rebanho, cada uma erguendo sua cabeça, iria descobrir os seus próprios horizontes onde encontraria outras pastagens... e outras opções de vida...

r disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
O Cidadão abt disse...

Ah! Era tão só, e simplesmente isso que a Rosa Oliveira pretendia saber???
E cá o Cidadão mergulhado numas reflexões tão profundas!
Caraças!!!
Esperemos que os anónimos não tenham somente esse tão cru objectivo nas suas incursões na caixa dos pirolitos cá do rapaz!!!
Chiça!!"!"#chiça =»%!!!
Então colocou uma questão...GRRR!!
Tão concreta e definida...
Como outra coisa qualquer...
Como esta pedra cinzenta
Em que me sento e descanso
Como este ribeiro manso
Em serenos sobressaltos
Como estes pinheiros altos
Que em verde e oiro se agitam
Como estas aves que gritam
Em bebedeiras de azul
Eles não sabem que sonho
É vinho, é espuma, é fermento
Bichinho alacre e sedento
De focinho pontiagudo
Em perpétuo movimento
Eles não sabem que o sonho
É tela, é cor, é pincel
Base, fuste ou capitel
Arco em ogiva, vitral,
Pináculo de catedral,
Contraponto, sinfonia,
Máscara grega, magia,
Que é retorta de alquimista
Mapa do mundo distante
Rosa dos ventos, infante
Caravela quinhentista
Que é cabo da boa-esperança
Ouro, canela, marfim
Florete de espadachim
Bastidor, passo de dança
Columbina e arlequim
Passarola voadora
Pára-raios, locomotiva
Barco de proa festiva
Alto-forno, geradora
Cisão do átomo, radar
Ultra-som, televisão
Desembarque em foguetão
Na superfície lunar
Eles não sabem nem sonham
Que o sonho comanda a vida
E que sempre que o homem sonha
O mundo pula e avança
Como bola colorida
Entre as mãos duma criança...
Está a ver a Pedra com que o Cidadão ficou?? É Filosofal!
Do António Gedeão!
Olhe, não faz mal recordar...
GRRRRR...GGGRRRR.... acalma-te, Cidadão!
Prrrontes... perontos... já está a passar cá a veneta... isto com um cházinho de tília... resolve-se... graças aqui à Companheira... prontos... caaalllmaaa...

É tradição nessas paragens de montanha e em que a rocha domina, por alturas das épocas festivas de verão embora no sítio específico em causa, hoje more por lá uma floresta de betão e as ovelhas são outras!
LOL!

r disse...

1
2
3
Acalme-se!!

...Em bebedeiras de azul
Elem não sabem....................
..........................
....................
............
........
....
..
.para poetar, cantando, a sua caixa de pirolitos:

http://br.youtube.com/watch?v=CrmWc95og1M

O Cidadão abt disse...

Aahhh! Obrigadão!
Na mouche!
O Cidadão também recomenda a consulta desse
http://br.youtube.com/watch?v=CrmWc95og1M a quem o esteja a cibervisitar!

Maria Marques disse...

ovelhas...."carneirismo"

Sempre que se fala em ovelhas associo a "carneirismo"!!!!
A propósito de carneirismo,todos nós seremos um pouco semelhantes às ovelhas que rodopiam,pelo menos em alguma ou algumas áreas das nossas vidas.Porque a assertividade exige coragem e se pode tornar incómoda ,preferimos seguir a maioria,atropelando as nossas próprias convicções(políticas,culturais ou religiosas).Não sabemos aceitar a diferença e agrupamo-nos em rebanhos,sem contestação,esquecendo que sem esta não há mudança e sem mudança não há progresso.A nossa História e num passado não muito distante,disso é testemunha.
Maria

J. Maldonado disse...

O que eu me fartei de rir com esta história! :))
Tens um humor fantabuloso! Fiquei abismaravilhado com os teus posts. :)

O Cidadão abt disse...

Finalmente, entrou cá na caixa dos pirolitos do Cidadão um guerrilheiro da Latinamérica!"El Maldonado"!
Cof!Cof!Cof!Cof! Desculpa, foi do fumo aí do havano!! Também aprecio, tal como uma bela cachimbada de "Captain Blak"... coisas do passado, em outros mares... mas não abuso.
Fico bué d'orgulhoso com tal visita!
Aparece mais vezes, p'ra me valorizares a cena!
OBRIGAAAADOOOO!

Aqui - Ali - Acolá disse...

O bom da vida, (e falando de nós Portugueses) é que ainda temos grandes cérebros capaz de nos transportar a um lugar fascinante como é o desta história.

Isto me leva a uma realidade de vida que nas sociedades modernas já pouco existe, é pena que assim o seja mas, lendo este relato, fiquei pensando que estava sendo uma figura nele inserida, pelo que, quem sabe se isso um dia será uma realidade!...

Parabéns por este tão belo relato..

Aqui - Ali - Acolá..

O Cidadão abt disse...

Aqui - Ali - Acolá!
Seja bem-vindo cá à chafarica cá do Cidadão!
Obrigadíssimo pela observação!
Entre outros,um dos objectivos da técnica literária aplicada neste tipo de relatos é fazer viajar os ciberleitores no espaço e no tempo por uns bons e agradáveis bocados, induzindo à literatura e fazendo esquecer o raio do televisor!!
Trocaremos muitos bitáites!