Um blogue que tem por objectivo desancar nas situações que ao Cidadão se lhe afigurem erradas ou desadequadas à vivência social, recorrendo a bons modos metafóricos, satíricos e humorados. A sua leitura é desaconselhada a maldispostos crónicos, a cinzentões e a mentalidades quadradas. Classificado como substância psicoactiva passível de dependência, poderá induzir micções involuntárias no indivíduo. Recomenda-se pois que o seu consumo seja doseado com moderação...
.
Este militante anti-cinzentista adverte que o blogue poderá conter textos ou imagens socialmente chocantes, pelo que asua execução incomodará algumas mentalidades mais conservadoras ou sensíveis, não pretendendo pactuar com o padronizado, correndo o risco de se tornar de difícil assimilação e aceitação para alguns leitores! Se isso ocorrer, então estará a alcançar os seus objectivos, agitando consciências acomodadas, automatizadas, adormecidas... ou anestesiadas por fórmulas e conceitos preconcebidos. Embora parte dos seus artigos possam "condimenta-se" com alguma "gíria", não confundirá "liberdade com libertinagem de expressão" no principio de que "a nossa liberdade termina onde começa a dos outros".(K.Marx). Apresentará o conteúdo dos seus posts de modo satírico, irónico, sarcástico e por vezes corrosivo, ou profundo e reflexivo, pausadamente, daí o insistente uso de reticências, para que no termo das suas análises, os ciberleitores olhem o mundo de uma maneira um pouco diferente... e tendam a "deixá-lo um bocadinho melhor do que o encontraram" (B.Powell).Na coluna à esquerda, o ciberleitor encontrará uma lista de blogues a consultar, abrangendo distintas correntes político-partidárias ou sociais, o que não significará a conotação ou a "rotulagem" do Cidadão com alguma delas... mas somente o enriquecimento com a sua abertura e análise às diferenciadas ideias e opiniões, porquanto os mesmos abordam temas pertinentes, actuais e válidos para todos nós, dando especial atenção aos "nossos" blogues autóctones. Uma acutilância daqui, uma ironia dali e uma dica do além... Ligue o som e passe por bons e espirituosos momentos...
O artigo segundo da Declaração Universal dos Direitos Humanos contempla o género, sendo de bom senso igualar o ser humano independentemente da língua, raça, cor, sexo, credo, condição, endinheiramento, origem ou opinião.
Isto já não acontece com o português!
Na sua constituição gramatical, o português faz questão em distinguir o masculino do feminino e o singular do plural, tornando as frases perceptíveis.
Por exemplo isto está mal redigido:
“É amarelo a casa da Teresa. A jarra para as mesas foi levada pela Teresa. A Teresa tirou uma rosa dos vasos”
Assim é o correcto:
Ou seja, na construção de frases e textos não há cá misturas de géneros!
São lavrados estes bitáites porque nas ondas hertzianas deambulam elevados, graves e monocórdicos decibéis proferidos por simpáticos jornalistas que se dedicam aos exteriores, pese temerários ao artº 2º da Declaração Universal dos Direitos Humanos
Provavelmente admiradores das obras de José Saramago, porquanto ao longo das frases, as pausas da pontuação saltam-lhes que nem molas.
Como se não bastasse, estes repórteres iniciam as frases no singular, terminando-as no plural, ou... arrancando-as no masculino, passam-nas ao feminino, recuperando-as para o género masculino.
Por exemplo, isto:
“Cresce cravos na primavera de toda a côr”
Esta desorganização sintáctica entrará em discrepância com o casamento de pessoas do mesmo sexo o que é grave nos dias que correm, posto o facto do nosso aristocrata Aníbal ter promulgado a lei à revelia do Bento XVI!
Ficámos sem perceber se a primavera é de todas as cores, se a primavera é de uma só côr mas intensa, se os cravos é que são de todas as cores, se quem cresce é a primavera, se são os cravos que crescem e por aí adiante.
“Há cravos branco vermelho e amarelo”
Havendo mais do que um cravo de cada cor, a conversa iniciar-se-ia e terminaria no plural.
“Há cravos lindos com cromos”
Reparam? Ficámos sem perceber se lindos, são os cravos... ou os cromos!
“Há árvore de frutos no pomar”
Um contorcionismo linguístico que dá a volta ao miolo de qualquer um!
Já aconteceu isto tudo em simultâneo resultando numa salganhada dos demónios, deixando os ouvintes perdidos em imaginários espaços quanto à interpretação das notícias difundidas nos microfones, ao ponto de causarem conflito entre receptores quanto às tentativas do seu entendimento.
Também no éter viajam subtilezas proferidas por eruditos doutores, como as seguintes:
“Os ouvintes são os públicos-alvos”
Ficámos sem perceber se os ouvintes são um público branco, pálido e chupadinho das carochas, se os ouvintes serão figurantes de uma carreira de tiro, tipo Saddam Hussein, ou se os ouvintes são o público a quem a mensagem se destina.
Se a última hipótese fôr eleita, dir-se-á:
"Os ouvintes são o público-alvo" ou "o público-alvo são os ouvintes"
Se forem diversos, os públicos metidos ao barulho, dir-se-á “públicos-alvo” e não “públicos-alvos”!
Outra subtileza ultimamente bastante divulgada nas rádios regionais é a seguinte:
“A ponte que liga as margens do Tejo entre a Praia do Ribatejo e Constância Sul encerrou ao tráfico rodoviário a partir das zero horas do dia vinte e um...”
Repararam?
C’um catano!
Não bonda osGNRterem encerrado as festas deConstância-2010, pois como agravante também havia“tráfico”na ponte!
Talvez por esse motivo a fechassem ao trânsito!
“Tráfico”é um acto ilícito, e de cariz criminal.
Supomos que o senhor radialista nos pretendeu noticiar... e não “notificar”, sobre o encerramento da ponte à circulação rodoviária... sendo “tráfego”, a designação correcta para quão impopular acto!
Atentemos a esta frase interrogativa:
“A derrocada da ponte está eminente?”
“Eminente” é uma expressão católica, coisa clerical atribuida ao título de um ser hierárquico, como a um cardeal ou a um bispo! O Termo correcto seria “iminente”, algo pouco ortodoxo e para breve... que mais dia menos dia, está para acontecer, não posso mais, viver assim...
Ah! Regressemos!
Portanto se o senhor jornalista reformular a questão nestes termos: “Aderrocada da ponte está iminente?”, talvez obtenha uma resposta objectiva.
“O juiz mandou emitir um mandato de captura”
Ná!
“Mandato” é um substantivo que significa “autorização”, “poder que alguém confere a outrem para, em seu nome, praticar certos actos”; “procuração “, “delegação”, “ordem”, "decreto”.
Outra subtileza linguística!
Pese o facto de ser raro nos dias de hoje os juízes efectuarem mandados, não há razão para os senhores jornalistas se desfamiliarizem deste termo, porque de facto, aquilo que o juiz fez, foi emitir um “mandado” de captura. Além de adjectivo, pode ser substantivo, significando ordem judicial de prisão, ordem judicial de detenção,ordem juduicial de busca, et cetera e tal.
“Registou-se um aumento da perca de população”.
Dãããã!
Esta tem barbas!
Deparamo-nos com um “dois em um”.
Ficamos baralhados!
Ele é champô e amaciador!
Primeiro porque “perca” é um peixe fluvial, supondo-se que a menina jornalista quereria referir-se ao acto de perder algo, logo a expressão correcta seria “perda” e também porque se algo se perde, não “aumenta”, mas diminui.
Houve oportunidade de apreciar um excerto da entrevista concedida pela grã-mestra guardiã das múmias e jarrões gregos que rezava assim:
“Uma grande maioria dos comerciantes do centro histórico manifestaram interesse em visitar a segunda antevisão do museu ibérico”.
Note-se que a erudita concedeu uma entrevista e não “concebeu” uma entrevista, como vai sendo hábito ouvirmos nos falantes!
Uma frase proto-histórica e da idade dos bronzes... rica em erudições e vícios linguísticos. Coisa barroca... só pode!
Se há maioria absoluta de comerciantes, essa maioria será soberana, una, e como tal, não sobrando hipótese para outra maioria, arrancar-se-à a frase com: “A grande maioria”, mandando o "uma" ás urtigas!
Como se isto não fosse suficiente, a redundância está enraizada nas pessoas eruditas, senão reparemos... na “grande maioria”.
Será que existem “grandes maiorias”, “médias maiorias”, “pequenas maiorias”, “pequenasminorias”, “médias minorias” e “grandes minorias”, ou só há maiorias e minorias?
E as mini-micro maiorias?
Ufff!
Isto dá cabo da carola a qualquer um!
Como não há duas sem três, a “grande maioria”dos ouvintes ficou convencida que assim é que é falar e não tardará muito, teremos de re-rever o acordo ortográfico.
Destacam-se os melómanos que estão nas tintas para estas tretas, aqueles que recolhem a informação para seu consumo, e os outros que juntam o útero ao agradável...
O quê?
Outra subtileza?
Onde?
Ah!
Vamos aprofundar as coisas mais um bocadinho, lendo o seguinte texto da obra “Viagens na Minha Terra” do mestre Almeida Garret:
“- Aqui estou minha avó: é a sua meada?...
Eu lha endireito - disse Joaninha saindo de dentro e com os braços abertos para a velha. Apertou-a neles com inefável ternura, beijou-a muitas vezes e, tomando-lhe o novelo das mãos, num instante desembaraçou o fio e lho tornou a entregar. A velha sorria com aquele sorriso satisfeito que exprime os tranquilos gozos de alma e que parecia dizer:
“-Como sou feliz ainda, apesar de velha e cega! Bendito sejais meu Deus.” Esta última frase, esta bênção de um coração agradecido, que expira suavemente para o céu, como sobe do altar o fumo do incenso consagrado, esta última frase transbordou-lhe e saiu-lhe articulada dos lábios:
- Bendito seja Deus, minha filha, minha Joaninha, minha querida neta, E Ele te abençoe também, filha.
- Sabe que mais, minha avó? Basta de trabalhar hoje, são horas de merendar.
-Pois merendemos”
Neste excerto, Garret pretende mostrar o carinho que une a Joaninha à sua avó.
É uma narrativa construída sobre um plano idealizado, ordenando ideias parcelares que nos conduzem a uma idéia central.
A construção do plano subdivide-se em três partes que são a ternura de Joaninha, a satisfação íntima da avó da Joaninha e o diálogo entre as duas onde é evidenciado o afecto mútuo.
Para que nos seja inteligível, a leitura do texto exige-nos algumas pausas longas, continuando a sua leitura na linha seguinte que se destaca recuada em relação ás restantes.
O último parágrafo suporta dois conjuntos expressivos e separados por um ponto final. Nele damos com as duas formas verbais finitas “seja” e “abençoe”.
Sendo cada uma destas formas o centro de uma afirmação, que se designam por orações, deverão ser enfatizadas durante a sua leitura.
Quando efectuamos a leitura de um texto devemos ser o mais claros possível, respeitando as pontuações, fundamentais para a sua inteligibilidade. A pontuação está para a leitura das frases como a acentuação para a leitura das palavras.
Por exemplo, esta notícia:
“A noite está linda”
Uma frase constituída por uma só oração simples e inteligível que não nos deixa margem para dúvidas. Mas se fôr assim:
“As estrelas parecem pequenas porque estão muito distantes”
Ou:
“O António saiu e foi ao cinema”
Há que ter em atenção a colocação dos predicados senão as frases dão uma grande salganhada, como por exemplo:
“O António foi ao cinema e saiu”
“As estrelas estão muito distantes porque parecem pequenas”
E ficámos a fazer o pino porque o fulcro dos sentidos mora nos predicados “e,” “porque,” combinados com os verbos “parecer”,“estar”, “sair” e “ir” que, ligando as orações entre si, lhes dão o sentido pretendido com uma organização morfológica!
Por exemplo, temos aqui outra subtileza. Aquilo que muitos designam por morfologia, deveriam defini-lo como anatomia
Há aqueles que processam superficialmente a informação recolhida e há os mais atentos que digerem cada sílaba da informação.
O facto dessa informação ser difundida com sucessivos vícios de linguagem, vai criar uma habituação danada nos ouvintes, difícil de exorcizar à posteriori.
Supõe cá o Cidadão abt que ao lerem estas observações reveladoras de uma preocupação salutar e construtiva, os locutores no geral e a linda repórter em especial, se irão libertando destes malditos vícios, da saturação repetitiva de palavras numa frase ou parágrafo, das subtilezas gramaticais, da sintaxe desmazelada, da prosa cantarolada, diccionando fluida e compassadamente cada parágrafo, recorrendo a fonéticas suaves e posicionando a voz abaixo dos setenta e cinco decibéis porque, para conforto dos tímpanos alheios, a voz humana se quer rente aos quarenta decibéis, fazendo dos microfones uns seres mais felizes.
Decerto que ao lerdes esta seca, passareis a fazer uma marcação cerrada aos cuidados com que este praça bitáita, exigindo dele maior rigor nas morfologias, e claro está, elevada sensibilidade nas anatomias sintácticas... A malta compreende que ao princípio não lhes será fácil, mas com o tempo ir-se-ão habituando.